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Educação de Infância

Educação de Infância

"Tudo O Que Eu Devia Saber Na Vida Aprendi No Jardim de Infância" ,
Robert Fulghum, Difusão Cultural, Lisboa, 1991,p.10.

O autor citado especifica as coisas que aprendeu e convida-nos a imaginar como o mundo seria melhor se aplicássemos as aprendizagens básicas que refere no nosso dia a dia. Façamos o exercício.
"Partilhar tudo com os companheiros" é algo que estamos longe de conseguir, a competitividade feroz dos nossos dias impede-nos de sermos generosos, desculpa aos nossos olhos o egoísmo com que agimos.
"Respeitar as regras do jogo". Como, se os outros não as respeitam?, pensamos. "
Não bater em ninguém". Um mundo sem Guerras, violência e dominação é sonho!
"Guardar as coisas nos sítios onde estavam" seria a solução para a entropia reinante, a vitória da ordem sobre o caos.
"Manter tudo sempre limpo" é das tarefas mais difíceis, quer em sentido lato quer mesmo em sentido restrito. Cada vez mais evoluídos tecnologicamente e cada vez mais sujos! Alguns andam a tentar aprender a não sujar.
"Não mexer nas coisas dos outros". Levar isto à prática significaria progressos como poder voltar a dormir de porta aberta e reconverter a profissão de carcereiro.
"Pedir desculpa quando se magoa alguém". Como é difícil reconhecermos que errámos! Quanto sofrimento evitado com um simples desculpa.
"Lavar as mãos antes de comer. Puxar o autoclismo". Também é verdade que há quem não tenha água nem autoclismo! Esses estão perdoados. Mas e os que têm? Não aprenderam direito ou já se esqueceram, sem dúvida.
"Ao sair à rua ter cuidado com o trânsito, dar a mão ao companheiro..." É verdade que também isto não aprendemos bem, não só andamos distraídos como preferimos não dar a mão a ninguém.
A Escola (integrada num determinado tipo de Sociedade) separa a imaginação da razão, incentiva cada vez mais o exclusivo uso dessa "razão" procurando criar pessoas que continuem o desenvolvimento da técnica, sem existir uma preocupação com o sentido lúdico, estético, criador. Busca-se "eficiência sem criatividade", trabalho sem reflexão. Este problema começa cedo, muito cedo, possivelmente no Pré-Escolar.
Como formadora de Educadores de Infância preocupa-me que se continue a educar de forma acrítica. É necessário educar desde cedo no cuidado com a preservação do meio ambiente? Sim, mas destruir, agredir, não partilhar, ser rude, faz parte da Cultura dominante. Crianças (e colegas de todos os graus de ensino), para escreverem duas linhas gastam uma folha de papel A4. O imenso consumo de papel representa uma face da "Cultura da Destruição". O próprio mundo informático, que um dia prometeu o fim do papel, tornou-se em mais um (ou no principal?) devorador de papel. Se pensarmos que ligada ao computador está a impressora, aliada à fotocopiadora, a mais terrível comedora da Floresta Amazónica e dos restantes pulmões do Planeta, vemos que os motivos de preocupação com o estado da Natureza são evidentes. Faz parte desta cultura de desrespeito pela Natureza o desrespeito pelos outros, a Ideologia da Dominação.
O esbanjamento, a tentativa de produção até ao infinito, não é possível mas é apresentado como algo "fatal". (Eis a "razão" separada da "imaginação".)
O trabalho realizado nos Jardins de Infância é muitas vezes encarado como mero conjunto de brincadeiras, dirigidas por pessoas pouco qualificadas, embora 'carinhosas' e com 'amor pela infância'. Não é só disso que se trata, como refere Robert Fulghum: o principal das nossas vidas pode ser aprendido no Jardim de Infância.

Maria Gabriel Cruz.
UTAD /Vila Real


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 79
Ano 8, Abril 1999

Autoria:

Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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