Amanheceu Abril em Portugal! Foi há 25 anos no dia 25. Bodas de prata feita de liga de Liberdade, de Solidariedade, de Vontade, enfim de paixão dorida de Democracia. E a luz daquela aurora continua a banhar quem sentiu o escuro da ditadura, quem acrescentou à sua memória o que não viveu, quem goza o fruir da conquista e assume os custos que comporta. Àquele toque de alvorada nunca se seguirá qualquer toque de silêncio nem de recolher. Os sons não soariam, os tocadores não tocariam. A luminosidade cresceu e o sol chegou ao zénite no primeiro 1º de Maio. Já os braços tinham cumprido a missão de espreguiçar, já os olhos tinham a certeza de acordar, já tinha sido remetido para arquivo chamado morto o passado recente; começara a ser escrito outro livro. A hora da sesta, que todos a ela passaram a ter direito, tem sido mais complicada. A par de quem a considera de lazer produtivo, há os que se instalam de corpo mole em colchão tecido de fibras sintéticas engordado por espumas de fácil acomodação. As molas são mais saudáveis, os motores não podem ficar no ponto chamado morto! Nascem, as mais das vezes in vitro, águas ácidas poluídas e poluentes e parasitas com carteira profissional. E quem alimentou os embriões assiste ao espectáculo que encenou, esquecido de que os actores que considera secundários são afinal os protagonistas. A terapia profiláctica é livro de cabeceira e a caixa das formas de luta não tem fechadura. Que se assuma, que conste! Seja permitida uma alusão a um 25 de Abril diferente e à vivência dos 25 anos subsequentes. No outro hemisfério, sobre um meridiano longínquo, em termos de calendário, nasceu 25 ainda em Portugal era 24. Assim, a festa começou mais tarde; as (falta de) comunicações também colaboraram no diferimento. Não se ouviu o Paulo da Carvalho, não se sentiu a cadência da Grândola do Zeca. Quando o sinal chegou à rua, que a velocidade de propagação do som é pobre para tão grande anúncio, já o sol emergira do mar do crocodilo e começara a apontar para a montanha onde era suposto ir esconder-se. Só que a montanha cresceu em força e baixou em altura para que o crepúsculo tardasse. Timor foi surpreendido! Os vizinhos estremeceram! Os só geograficamente vizinhos , mandantes do povo realmente próximo, fabricaram nuvens negras de chumbo e retiraram algum brilho ao rei das estrelas. Durante 25 anos, às nuvens sucederam trovoadas, raios ferozes que queimaram vidas e cegaram olhos ávidos de ver. Mais um esquecimento: o povo maubere usa ao peito o sol dourado como adorno do coração. O sol é dos timores! Outra distracção: no trajar tradicional há peças de prata, quer em forma de serena e apaixonada lua, quer em prodigioso bordado aposto a bainha de espada de aço. A paixão é deles! A luta também! Em Timor a madrugada desmaiou. Há falta de estrelas no céu. Há céu? Que as baladas dolentes passadas a gritos de dor e de guerra, venham a renascer em forma de hino de vitória. É preciso! É urgente! Mas com total respeito pelo direito de liberdade de decisão de quem de direito! Abril sempre e para todos! Iracema Santos Clara
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