Página  >  Edições  >  N.º 79  >  Inquérito

Inquérito

Perguntas

Lembra-se do dia 25 de Abril de 1974? Como foi para si?
Vinte e cinco anos depois, considera que os objectivos da revolução foram cumpridos?

Respostas

Artur Rodrigues,
42 anos, comerciante
R1 - Sim. Foi um dia um bocado mau, porque nessa altura estava na tropa, em Tavira, e fomos o último quartel a render-se. Tenho boas e más recordações.
R2 - Penso que não. O 25 de Abril foi feito a pensar nos políticos. O povo continua na mesma.

António Vieira,
70 anos, reformado
R1 - Lembro. Nessa altura era subchefe dos serviços prisionais da cadeia de Paços de Ferreira, estava de serviço nesse dia e fui seguindo os acontecimentos pela rádio.
R2 - Houve reacções de muitos indivíduos que não gostaram do golpe, mas a maioria é que vence, sempre foi assim... Mas, principalmente, penso que custou mudar a mentalidade de muita gente, em especial a da mocidade, que julga que a liberdade é poder fazer tudo. A democracia foi implantada - e muito bem -, mas há que a cumprir.

Eduardo Ramalho,
46 anos, caixeiro
R1 - Quando ouvi as primeiras notícias estava deitado. Depois fui trabalhar e foi um dia praticamente igual aos outros. Mas não tinha nada de especial para comemorar porque ainda não sabia o que estava para vir.
R2 - Não todos. Os salários continuam baixos, as pensões dos reformados também, e em termos políticos as mudanças foram poucas: os políticos mudam, mas a política é sempre a mesma.

José Monteiro,
81 anos, reformado
R1 - Sim. Nesse dia estava a trabalhar. Para quem sempre esteve habituado a viver no fascismo, a olhar para tudo e para todos com receio, foi uma surpresa muito grande. Quando de repente se ouve falar em liberdade, fica-se embasbacado. No entanto, não "confiei" logo. Só mais tarde é que cheguei à conclusão que a revolução tinha vindo para ficar.
R2 - Bem, pelo menos a democracia está mais desenvolvida. Todas as pessoas, mesmo aqueles que são da oposição ao governo, podem dizer o que está bem e o que está mal. Normalmente dizem o que está mal, não o que está bem, mas têm liberdade para o fazer e não perseguidas por isso.

Luísa Monteiro,
46 anos, empregada de escritório
R1 - Nessa altura estava casada com um estrangeiro e morava em Inglaterra. Em Londres, inclusivamente, já se falava que, mais dia menos dia, iria ter lugar um golpe. Entrei pela fronteira portuguesa na noite de 24 para 25, e soube da revolução no cabeleireiro, às 11,30 da manhã. Depois vim para a rua, como toda a gente.
R2 - Isso tem muito a ver com as pessoas. Se calhar para mim não foram totalmente cumpridos, porque acabaram por ser desvirtuados por razões que toda a gente conhece. Mas aquilo que os capitães de Abril preconizaram foi cumprido.


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 79
Ano 8, Abril 1999

Autoria:

Redacção

Redacção

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo