Página  >  Edições  >  N.º 77  >  Falar em Portugûes

Falar em Portugûes

A língua, essa poderosa bandeira!
Proponho-me escrever algumas palavras acerca desse valor que tanto prezo, a propósito de três pessoas que muito admiro, com perfis diversos ... ou nem tanto!
Em Outubro do ano que findou tive o grato privilégio de ler José Saramago, não através dos livros que escreve, mas da sua presença física e avassaladoramente ao vivo, a curtos passos de mim, em Évora, durante uma cerimónia de homenagem, das muitas a que o escritor é sujeito, sim porque sujeito é sempre mas também certamente "sujeito" como particípio passado de "sujeitar". Porventura, algumas vezes, por algum aproveitamento do Nobel apenas quando a distinção foi escrita em papel, já estou cansado, isto é demais, quero ter tempo para ficar por detrás dos meus óculos.
Não era o caso naquele salão singelamente nobre do palácio de D. Manuel.
Para além de ser Alentejo levantado do chão, para além de ser Évora, o caminhante da estrada do Verbo regressava de uma passagem pela casa onde se instalara em tempos, para viver mais sentidamente o tal chão que lhe mereceu honras de título de obra admirável.
Dizia Saramago que se pensa com palavras, que sem elas não há pensamento. Deixava até uma recomendação no sentido de que se cuidem os mais visíveis (leia-se, formadores de opinião) em termos de expressão verbal.
Em Novembro, num recanto de uma livraria conceituada, agora no norte do país, tive o gosto de assistir à sessão de apresentação de um livro de Xanana Gusmão. Apreciei sobretudo o formato da simbologia do acto, sorri com o sorriso amigo que os timorenses me ensinaram a imitar lendo os poemas do líder da resistência do seu povo e observando as reproduções de alguns dos seus quadros. Aí, ainda percebi melhor a afirmação de Évora. Estava, realmente a fazer a tradução verbal das pinturas, que me suscitaram o mesmíssimo sorrir, tal qual!
A enriquecer o livro de Xanana está um prefácio notável da outra das três pessoas, Mia Couto. Não resisto ao desejo de transcrever alguns passos, começando pelo título do mesmo.

O Verso e o Universo

O tempo é um ser que engravida antes mesmo de nascer. Em cada momento, a História sonha o seu próprio futuro. Na ante-margem do próximo milénio, o nosso tempo parece ter deixado de sonhar.
...Timor parece erguer-se como prova contrária a estes sinais de decadência...
... E naquelas páginas [ de Xanana] confirmei :pela mão de um homem se escreve Timor.
... Por via da sua letra se supõe falar todo um povo, uma nação.

Que magnífico denominador comum se extrai nas expressões destas três figuras!
Reduzo-me à minha dimensão e deixo-vos com as palavras.

Iracema Santos Clara
Escola Dr. Augusto Pires de Lima / Porto


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 77
Ano 8, Fevereiro 1999

Autoria:

Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto
Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo