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O Direito de Ser Humano

Logo que nasce o ser resultante da conjugação sintagmática de um gâmeta feminino com um gâmeta masculino, por definição, adquire a qualificação de humano, naturalmente se resultar de seres com a mesma condição. A condição é que só passa a direito se for exercida em liberdade.
Parece que todo o elenco que constitui a Declaração Universal dos Direitos do Homem, apenas clarifica um dever/direito: o de ser livre.
Livre de ser, livre de estar, livre de querer, livre de pensar, livre de saber, livre de ser digno, livre de ser livre!
Há quem afirme que a liberdade de cada um é condicionada pela liberdade de todos. Não a entendo assim, como uma espécie de refém. Não é um valor individual, é universal. Não faria sentido se tivesse de se reger por normas estabelecidas por alguns para os outros, perderia significado se constasse de dicionário.
Então, porquê tantos atropelos e desrespeitos em relação ao que é tão natural como a existência?
Chegamos, porventura, à causa mais determinante deste aparente paradoxo: os desvios praticados no exercício do poder. Este, o poder, é que está doente de mil males! E não se vislumbra serviço planetário de saúde que lhe valha!
Não há liberdade sem autonomia e não há autonomia sem verdadeira negociação entre poderes que se querem equilibrados. Do equilíbrio resultariam as competências diferenciadas complementares e as sedes adequadas para os seus desenvolvimento e aplicação integrados.
Nós, professores e educadores exigimos a dignidade que nos permita sermos livres de colaborar na formação de gente livre. Exigimos que as políticas educativas propiciem uma escola que estimule a educação ao longo da vida, que combata a exclusão, que forneça instrumentos para aniquilar a guerra, que desenhe o conhecimento e a afectividade mais com curvas concordantes do que com linhas poligonais de vértices pontiagudos que firam mentalidades e sensibilidades. Os constrangimentos, que são eles também parte do traçado, não surjam senão quando conduzam a correcções do esquisso para que de forma saudável se torne cada vez menos definitivo, ou seja, cada vez mais enriquecido.
As bodas da proclamação da Declaração Universal doe Direitos do Homem são de ouro. O metal é nobre. Porém, ainda brilha apenas para alguns. Como o sol, tem de brilhar para todos!
E são tantos os que vivem na sombra, na sombra de grades e correntes que lhes limitam os movimentos. Felizmente nem sempre a prisão física significa cárcere para o pensamento. A minha homenagem a quem, desta forma, é livre. A minha solidariedade e a generosidade de que sou capaz na amortização da dívida colectiva.
Por exemplo, não por acaso, estou a pensar no povo maubere.

Iracema Santos Clara
Escola Dr. Augusto Pires de Lima / Porto


  
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Edição:

N.º 76
Ano 8, Janeiro 1999

Autoria:

Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto
Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto

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