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Pensar de forma Global

O vento e o pó são
os meus companheiros ,
O fim do mundo
o meu lar.

Chang , Jung , Cisnes Selvagens , três filhas da China ,
Quetzal , 1995 , p.32-33 , citando Hu .

Numa altura em que tanto se fala de "globalização" é bom dizer que os problemas humanos estão, de facto, interligados. Chegamos à hora de proceder a um balanço de fim de século. De fim de milénio, porventura de fim de tempos, de uma certa era. A Educação não pode mais ser vista como panaceia, porque já se viu que não existe nenhuma fatalidade histórica que conduza, sem margem para dúvidas, ao progresso eterno e crescente da Humanidade. Todo o Planeta se "subdsenvolve" num processo que arrasta as populações da América Latina, da África, da Ásia e da própria Europa. Quando já não se contestam os produtos que nos invadem a baixo preço as lojas e lares, provenientes de mão-de-obra escrava, quando se corromperam os laços afectivos e morais na "Velha Europa", reparamos que produzimos nuns locais miséria total e noutros miséria mental. O sentido de família, a solidariedade, a sensação de gozo por convivermos saudavelmente com os outros, tudo isso tende a desaparecer, substituído pela cada vez mais alargada noção de "família nuclear". Para ter dinheiro suficiente e poder trocar mais vezes de carro o homem europeu ignora as multidões de imigrantes que nos buscam, vendo nos países da União Europeia o que os antigos invasores de Roma julgaram ver : prosperidade para todos. Assim, estamos numa situação semelhante à do Império Romano do Ocidente, caído em 476. Puro engano o daqueles que nos procuram. Quem lhes disse que aqui reina a felicidade e melhores laços entre os homens? Quem os avisará das razões pelas quais não são expulsos? O que têm os professores a ver com isto? Antes do mais, como todos os outros, os professores vivem no meio desta situação , da mundialização, comendo e bebendo artigos provenientes de todo o planeta, visto como um só produtor e mercado. A questão é simples: repare-se em qualquer objecto que povoa as nossas casas: é verdade que ele pode sempre ser produzido mais barato, mais depressa e melhor, se mudarmos as fábricas para os locais convenientes. O professor pode e deve, pelo menos, alertar contra este tempo em que se desvia o olhar da pobreza. Queremos educar as nossas crianças na indiferença?

Carlos Alberto Mota
UTAD / Vila Real


  
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Edição:

N.º 76
Ano 8, Janeiro 1999

Autoria:

Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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