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A escola médica da interioridade

A escola médica da interioridade

Duas novas faculdades de medicina vieram colocar o País em pé de guerra e os ministros deste governo rosa uns contra os outros.
Certa que estava a criação de um curso de medicina na Universidade do Minho, um sonho acalentado há mais de duas décadas, faltava saber para onde iria o outro.
Em Conselho de Ministros ficou estabelecida uma condição: ser no Interior do País. A partir daqui, e tendo em conta que a intenção do Governo era iniciar os cursos dentro de dois a três anos, ficou claro que as candidaturas com mais hipóteses teriam de ter uma estrutura de ensino universitário para que o investimento não fosse tão grande e tão moroso.
Em Setembro já o DN noticiava que Covilhã (Universidade da Beira Interior-UBI) e Braga (Universidade do Minho) tinham sido escolhidas. Uma notícia que seria confirmada só agora por decisão do Conselho de Ministros, após parecer técnico de um grupo de trabalho liderado por Diogo Lucena.
E os protestos não se fizeram esperar, principalmente vindos de Viseu, onde houve manifestações na rua, bandeiras a meia haste e críticas, muitas críticas, principalmente ao Primeiro-Ministro, António Guterres, que tinha prometido o ensino universitário para aquele concelho. Mas se o grande derrotado nesta corrida política, porque foi disso que se tratou, é Viseu, há outros concelhos bastante desagradados com a decisão governamental, nomeadamente Bragança, Castelo Branco, Vila Real e Évora.
Algumas candidaturas, como a de Aveiro, quando souberam de imperativo "Interior" desistiram do curso de medicina e começaram já a preparar-se para a criação de uma escola superior de saúde. Aliás, este pode ser o rebuçado de Guterres para alguns concelhos preteridos. O Primeiro-Ministro sempre que é questionado sobre os cursos lembra que há decisões a tomar nesta matéria que não a instalação de novas faculdades de medicina. Medidas essas que "deverão contemplar escolas de outra natureza ligadas ao sistema de saúde e medidas que visam aumentar também a capacidade dos actuais estabelecimentos de ensino dedicados ao sector da saúde".
O novo hospital que está a ser construído no pólo III da UBI foi outro factor determinante na escolha da Covilhã, tanto mais que a comissão técnica alertava para a necessidade de um ensino de medicina inovador, o que será mais fácil de pôr em prática num hospital novo. Há também a acrescentar uma outra realidade que não deve ser esquecida: a interioridade. Uma realidade que tem desgastado a imagem da Universidade da Beira Interior e que, ao mesmo tempo, tem afastado os médicos deste e de outros concelhos com características semelhantes. Uma forma de vencer as distâncias.

outros superiores descontentamentos

Os estudantes do ensino superior voltaram à rua e aos protestos. Deslocaram-se de shogans antigos e já com pouco sentido, como o "não pagamos", e exigiram um ensino de qualidade, uma acção social escolar mais justa e, uma vez mais, mostraram um cartão vermelho à Lei-Quadro de Financiamento do Ensino Superior.
Um pouco por todo o País houve greve às aulas, que no Porto, foi antecedida de uma manifestação em frente à Faculdade de Ciências e de um referendo nas faculdades, que mostrou claramente o descontentamento estudantil face a esta lei e à continuação de Marçal Grilo à frente do Ministério da Educação.
Apesar de tudo, houve universidades, como Braga, que optaram por não aderir à greve, o que não chegou para esmorecer a luta dos estudantes do Porto, Coimbra e Lisboa, principalmente.
Após esta iniciativa surgiram, sequenciados, vários protestos em faculdades e escolas diferentes. Para que a contestação nunca morra. Primeiro foram os de Ciências da Nutrição do Porto a alertar para a falta de condições no seu Instituto pré-fabricado, onde chove nas salas de aula, não há computadores, a biblioteca fica num corredor e os acessos à entrada da escola constituem uma autêntica aventura todo-o-terreno.
A estas denúncias seguiu-se o protesto generalizado dos estudantes do pólo 3 da Universidade do Porto - Faculdades de Direito, Letras, Psicologia e Ciências da Educação, Arquitectura e Ciências. São oito mil alunos sem cantina. E os de Letras queixam-se também dos maus acessos, da falta de equipamentos nas aulas e de professores desmotivados.
Em Lisboa, foram os universitários do Instituto Superior de Agronomia a colocar a boca no trombone. Encerraram as portas a cadeado como forma de protesto contra as más instalações e querem que o ministro resolva o problema da sobrelotação, que já se arrasta há muito tempo. Num edifício preparado para receber 500 alunos, dizem, estão cerca de dois mil.

Luísa Melo


  
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Edição:

N.º 75
Ano 7, Dezembro 1998

Autoria:

Luísa Melo
Jornalista
Luísa Melo
Jornalista

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