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De pequenino(a)...

... se forma o ser humano!

Será que o conceito de formação está verdadeiramente enraizado na mente dos menos pequenos? Não está.
A carga das tradições culturais , religiosas, políticas e morais retira a verticalidade ao fiel da balança. No outro prato, as massas marcadas da estética, da ética e de outros valores universais não obedecem à lei da Física que preceitua, para que se estabeleça equilíbrio, que o momento da potência seja igual ao da resistência. Atenção ao fulcro da alavanca (motor) e à extensão dos seus braços!
Descendo, se calhar subindo, à realidade social que nos é mais próxima e tendo em conta o aforismo a que o escrito roubou o título, o "torcer" tem, na aplicação, muito de deformar e não quanto baste de moldar. Diga-se que este moldar implica a sensibilidade do contacto doce-firme de mãos de artista que respeita, acima de tudo, a textura e a nobreza da matéria a que ajuda a dar forma.
Já se vai notando que, ainda do útero da mãe, o novo ser vai dando ordens para que se deixem os seus autores de preocupações do tipo "cor de rosa se for ela, azulinho se for ele". Mas há preconceitos, mesmo que camuflados, que após o nascimento constróem rótulos distintos e, pior, desenham projectos inaceitáveis para arquitectos de vida. Não se estranhe então o desconforto do habitante. Para além do biológico, pouco mais resta que exija distribuição de tarefas. Não é classificação e consequente atribuição de deveres e poderes que interessa. É a partilha da responsabilidade e da felicidade que enriquece o núcleo familiar objecto de importantes pressões endógenas e exógenas de desagregação.
Quando a acção da família se prolonga para a escola e esta toma assento na família, a educação não sexista impõe-se, porventura, de um modo mais marcante, já que se vai tornando mais complexa em extensão e em compreensão. Há que alargar território e articular estratégias.
Logo na educação pré-escolar duas vertentes têm que ser ganhas: a da linguagem e a das actividades. A título de exemplo, há quem defenda que, sem desvalorizar as componentes do binómio menina/menino, se deva recorrer com maior frequência ao emprego de termos como "criança". Nesta linha, surgirão mais tarde as designações: adolescente, jovem, etc.. Nos jogos, deverá ser esbatida a ideia de tarefas ou capacidades a atribuir/exercer com base no que é próprio de quem, menino ou menina. Naturalmente, repito, sem desrespeitar as diferenças.
E, saindo as crianças do jardim, subirão os degraus da escola com mentalidade e hábitos que lhes vão permitir entrar a par.
Apesar do sistema educativo que temos não ser exactamente o que desejamos, há margens, sempre houve, com contornos mais ou menos limitativos, de autonomia individual integrada em projecto colectivo, que tornam possível formar e informar os alunos num contexto de igualdade de oportunidades, isto é, de direitos e de deveres.
Para terminar, em jeito de perguntar: qual é o saber, qual é a ciência que não têm o seu desenvolvimento histórico recheado de partilha entre homens e mulheres, a nível intelectual e emocional?


Novembro de 1998
Iracema Santos Clara


  
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Edição:

N.º 74
Ano 7, Novembro 1998

Autoria:

Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto
Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto

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