Que epígrafe! Ponto de exclamação já não condiz com o que a sugeriu: referendos. Quanto à inspiração mais não direi do que o que quiserem ler das reflexões que seguem, nos tempos que passam. Cultura é conhecimento? É informação? É vivência? É imposição? É ... genética? Há a perspectiva, porventura tradicionalista, que a define como conjunto de características mais ou menos imutáveis comuns a grupos de pessoas. Aqui cabem crenças, costumes, hábitos e saberes veiculados privilegiadamente por passagem de geração em geração. Não poderá esta concepção constituir-se factor de discriminação? Preservar perde riqueza quando possa conduzir a dividir. As sociedades, ora feliz, ora infelizmente, mudam e, sobretudo, integram novos elementos culturais que interagem. A árvore da globalização não é estéril. Como são os seus frutos incluídos nas ementas? Podem ter lugar de entrada, de prato principal, de sobremesa. Em muitos casos ainda continuam a ser classificados em função do 'classificador', das suas referências e dos seus pontos de vista. A este conceito etnocentrista contrapõe-se o chamado relativismo cultural que defende critérios inerentes à própria cultura e não a outra(s) cultura(s). Não há caminhos predefinidos a percorrer, mas há vias diversas. Atenção à sinalização! Os actos, as opções, as influências não são regidos apenas por condicionantes meramente sociais; é tolo separá-las das que são eminentemente políticas. O galopante avanço das tecnologias, reflectido pelos media é, por si, poder inegável. E, paradoxalmente, são postos ao serviço de culturas dominantes. A ruptura com constrangimentos relativistas e/ou etnocentristas terá que ter como motor a democratização das instituições e a valorização da igualdade de oportunidades a todos os níveis. A educação em que os agentes não sejam simultaneamente formadores e formandos não promove o 'saber tornar-se'. Evidentemente que isto se aplica a qualquer cidadão individualmente e nos colectivos em que se insere. No entanto parece óbvio que os professores e educadores têm um papel determinante. É seu dever ter em conta questões de fundo relativas à situação das minorias e das maiorias que podem alimentar preconceitos e sentimentos de detenção ou perda de poder. Por outro lado (concomitantemente), é seu direito ter o espaço e as condições para levar a cabo o cumprimento do referido dever. É claro que por eles pugnam e nas suas práticas chegam a atitudes de espantosa criatividade e infinita generosidade. Para além das marcas, se calhar ...
E um referendo quanto à qualidade da escola portuguesa? E uma prévia e honesta informação a e por parte de todos os actores envolvidos?
Julho de 1998 Iracema Santos Clara
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