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Roleplaying na Educação para a Saúde

Em termos de dimensões psicológicas, as dramatizações podem incentivar o sentimento de autoeficácia, a autoestima ou a aquisição de competências para dizer não.

A dramatização – ou roleplaying, na terminologia anglo-saxónica – é um instrumento crucial na educação e mais propriamente na Educação para a Saúde (EPS). A assunção de papéis e de argumentos pode permitir a exploração, em ambientes protegidos, da pressão de grupo de pares e perceções sobre comportamentos de risco.
Programas estruturados de intervenção nos estilos de vida socorrem-se deste género de ferramentas no que diz respeito à prevenção do tabagismo, à educação sexual ou à promoção de uma alimentação saudável. Em termos de dimensões psicológicas, as dramatizações podem incentivar o sentimento de autoeficácia, a autoestima ou a aquisição de competências para dizer não.
É propósito deste texto a organização de breves anotações sobre as boas práticas no uso deste género de ferramentas. Mover-nos-emos numa perspetiva genérica e não a partir de dramatizações concretas.
Dependendo do grau de interconhecimento entre o dinamizador e o grupo, as instruções podem ser mais ou menos claras. Os atores devem ser estrategicamente escolhidos ou serem voluntários? Eis uma das opções estratégicas a ser tomada. O dinamizador pode ainda socorrer-se de quebra-gelos ou de uma breve dinâmica para escolha dos participantes. Ilustrando: quem faz anos em dia par levante-se; quem, de entre estes, tem como cor favorita o verde mantém-se de pé, e assim sucessivamente, até se obter o número desejado para a atividade. Estes quebra-gelos podem facilitar a fase posterior da atividade.
A questão seguinte tem que ver com a dramatização propriamente dita. Os papéis e dilemas devem ter sido pensados anteriormente.
Será útil, para manter o interesse da audiência, dar as instruções fora da sala. Por questões de clareza e eficácia ponderar-se-á, em complemento com as instruções verbais, as escritas.
No decurso da dramatização – se previamente combinado – o dramatizador pode pedir aos ‘atores’ para exagerarem determinada situação ou ignorarem determinado aspeto. Pode também fazer inversões de papel: por exemplo, o aluno aliciador, que faz as delícias da plateia, passa a ser o aluno que tem de dizer não, e assim é obrigado a responder aos seus próprios argumentos.
Dever-se-á ter o cuidado de que os atores não saiam do papel. É pois de evitar responder a perguntas diretas, sobre se alguma coisa é certa ou errada, que quebrem o ritmo do roleplay. Considerar-se-á ainda a nomeação, entre a assistência, de ‘anjos’ que chamem a atenção aos atores sempre que eles se esqueçam dos papéis que deveriam representar. A estratégia pode constituir-se como uma ótima ferramenta de ligar os atores à audiência.
Finda a dramatização, dá-se início à fase de exploração. Nesta etapa, o dinamizador dá voz aos atores. De que forma se sentiram nos papéis? O que queriam explorar? De que modo lidaram com as contrariedades?
De forma intercalada com esta exploração, o dinamizador procurará inteirar-se das perceções dos ouvintes. A conetividade entre ‘atores’ e ‘espetadores’ potenciará ao máximo o impacto da dramatização. A exploração de contradições depende muito da sensibilidade de quem conduz a sessão. Devolver essas contradições ou ampliá-las, tornando-as quase absurdas, são instrumentos úteis por forma a aumentar a expressividade do grupo e o envolvimento de todos.
Ainda na fase de exploração, caso haja celeuma sobre algum aspeto, poder-se-á considerar a hipótese de convidar algum participante para que mostre como faria ou responderia em determinada situação.
No que respeita a variantes, podem passar pela mudança ou introdução de atores durante ou na repetição da dramatização – com introdução ou não de cambiantes. Existe ainda a possibilidade da organização de um falso fim.
Partilhamos aqui uma experiência por nós realizada. O cenário para a dramatização exigia três atores, mas pediram-se cinco voluntários. Os dois sobejantes não teriam nenhuma função na dramatização, mas sim na fase de discussão. Assumiriam então papéis relacionados com o que se discutiu, mas ainda assim tendenciosos.
Pretendia-se, deste modo, fomentar a expressividade do grupo na fase da partilha e exploração da dramatização.
Entramos, finalmente, na etapa de consolidação. Pode propor-se um trabalho em pequeno grupo para sistematização das aprendizagens e polémicas abordadas – isto em termos ainda da sessão propriamente dita, porque no que respeita a outros níveis de consolidação, é só deixar que as sinergias funcionem: atividade de escrita, na internet, partilha em blogues, organização de clubes de saúde, entre muitas outras possibilidades.

Rui Tinoco


  
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Edição:

Edição N.º 201, série II
Outono 2013

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