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O papel educativo do cinema

Através de uma resenha sobre a evolução do cine ma constata-se que, ao longo dos tempos, ele tem sido alvo de controvérsia e objecto de discriminação, como por exemplo os filmes censurados pelo regime e a complexificação de pressões a que se vem sujeitando e das quais é impossível fugir.
Nos ditames da competitividade próprios do capitalismo realça-se a força daqueles que continuam a fazer cinema de autor de uma forma independente e militante, mesmo sabendo que terão pouca voz na imprensa. Ora, tendo por referência analistas mais conscientes do conceito de “hiperglobalização”, que advertem contra o “imperialismo cultural daquilo que designam por MacMundo, ou seja, um capitalismo consumista desprovido de alma que está rapidamente a transformar os diversos povos do mundo num mercado insipidamente uniformizado” (M. B. Steger, «Compreender a Globalização»), surge a necessidade de fazer emergir a questão sobre o papel desempenhado pelo cinema na Educação.
É da responsabilidade das Ciências da Educação desconstruir conceitos, de forma a traduzir fielmente determinada realidade educativa, independentemente de ser formal ou informal. Isto é, dar conta daquilo que se faz e disponibilizar esse conhecimento. Urge, assim, tentar perceber se a linguagem do cinema é, não só “um instrumento de poder”, mas também “uma tecnologia que medeia a distribuição do poder” (T. S. Poppkewitz, Ideologia y formación en la educación del professorado) e de que forma se relaciona esta com a Educação, não apenas porque sim, mas sobretudo pelas potencialidades que daí possam advir.
Ao juntar uma grande quantidade de pessoas, chamando a atenção para o poder de influência, o cinema é, por si só, passível de estudo. É-o, ainda mais, ao pensar e tratar as grandezas e fraquezas da humanidade. Se num primeiro momento vamos ao cinema com um objectivo lúdico, logo percebemos que as suas potencialidades estão muito além da diversão e entretenimento.
O cinema é uma arte com objectivos mais ambiciosos, nomeadamente, promover e proteger a dignidade da pessoa humana (através da realização de um vasto conjunto de direitos civis, culturais, económicos, políticos e sociais), bem como promover o respeito e desenvolvimento de cidadãos críticos e informados, com direito à sociabilidade e pertença a um qualquer lugar, rural ou urbano.
Desta forma, através da análise de vários filmes, poder-se-ão abrir múltiplas “janelas de reflexão”, particularmente o seu papel educativo numa sociedade que viveu uma ditadura, o flagelo da guerra colonial, o modelo de exploração que se vivia nas ex-colónias, a luta contra o trabalho infantil, a ruralidade e o êxodo rural, os bairros das cidades e as diferentes etnias urbanas ou, ainda, as diferentes orientações sexuais.
Ao retratar estas realidades, passadas ou presentes, o cinema cria uma memória do povo português e da nossa história que não deve nem pode perder-se. Creio, então, que é nesta intersecção que o papel do cinema na Educação poderá fazer sentido.

Maria Lopes de Azevedo


  
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Edição:

Edição N.º 193, série II
Verão 2011

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