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Mulher, professora

— Lembra-se daquele ano em que pôs as raparigas do 10º D a oferecerem flores aos rapazes no dia 8 de Março?
— Claro que me lembro! Foi há mais de quinze anos, mas nunca mais esqueci…
— Nos dois anos seguintes, repetimos. Mas aí, eles já se lembraram de tomar também a iniciativa!... E nós – as que fomos mantendo contacto – sabemos, cada 8 de Março, que aquela forma de celebrar o “nosso dia” marcou… A eles e a nós!...

Este é um episódio daqueles que sabe bem guardar. E junta-se à colecção de razões pelas quais sinto e digo que foi bom ser professora!
Conhecer tantas vidas – umas que despontavam, outras que lhes tinham dado vida e as cuidavam – deu-me uma tal riqueza que pude ir acrescentando amplitude à dimensão social e formadora do meu trabalho.
Algumas mães cujos caminhos se cruzaram com o meu ficaram na minha memória como testemunhos de resistência, de combate, de dádiva e de força. Recordo ainda alguns dos seus rostos e algumas das suas palavras sentidas…
As minhas alunas e os meus alunos deram-me aquilo que pode designar-se por “chão”. Com elas e eles, equilibrei-me, apoiei-me e, claro, elas e eles ouviram-me e acolheram, cada um à sua maneira, o que, dia após dia, quis mostrar-lhes (não só da Matemática, também do resto da vida à nossa volta!...). E a escola que tínhamos e construíamos também os envolvia para, depois, abrir os braços e deixá-los seguir caminho…
Março, Abril, Maio, a liberdade, os direitos humanos, a solidariedade, não são “a preto e branco” para elas e eles… Com certeza.
Claro que não é uma questão de género. Claro que não fui melhor professora por ser mulher… Mas acredito que me tornei uma mulher mais inteira por ter sido professora!...

Ana Brito Jorge


  
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Edição:

Edição N.º 192, série II
Primavera 2011

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