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Direcção 3D

“Julgávamos estar na Idade Atómica. Mas não. Estamos na Era Estereofónica... Toda Los Angeles conta a história de um senhor que entra num cinema 3-D no meio de uma sessão, e tem à sua frente umas costas enormes. Pode encostar-se um pouco?, diz delicadamente, tocando-lhe no ombro, está a tirar-me a vista. E o outro: não posso, estou no filme. Este humor é meritório numa cidade assustada, enraivecida pela fome, e que espera com ansiedade os resultados da sua arma secreta para saber se sobreviverá, enquanto as antenas de TV, penduradas sobre os telhados como abutres, atestam a ameaça e promessa de cura”. Este texto, datado de Julho de 1953, é de Chris Marker, numa Lettre de Hollywood («Cahiers du Cinema», nº 25).
Nada de novo debaixo do Sol? 2010: a ameaça do ecrã doméstico está ainda mais presente (a internet brilha), e desta vez o 3D não se pode permitir ser apenas um figurante. Do ponto de vista da indústria, o fenómeno “Avatar”, mais do que o próprio filme, é um verdadeiro acontecimento: fomos convidados a pôr os óculos para ver os trailersde “Alice no País da Maravilhas”, de Tim Burton, e de “Dragons”, produzido pela Disney e pela Dreamworks, que, aproveitando a boleia, gritam desta vez é que é!!!
Em Hollywood, os estúdios esfregam as mãos. “Clash of Titans” foi refeito em 3D, depois de ter sido rodado normalmente (onde é que eu já vi isto?). A Sony relança “Spiderman” – um chamado reboot, em que a história volta ao princípio – para o refazer agora em 3D. O cinema de terror também promete a sua parte: este Verão sai “Piranha 3D”, de Alexandre Aja, e no próximo ano “Halloween 3D”; mesmo Joe Dante, segundo consta, pensa num “Gremlins 3D”. Tudo isto lembra o desespero dos anos 50 e 80, perante a possibilidade de decadência do cinema, só que na altura dizia- se em relevo em vez de 3D. A Europa espera muito timidamente os óculos que Hollywood lhe estende, mas propõe uma novidade: o porno 3D, que interessa ao veterano Tinto Brass, assim como a Gaspar Noé.
Mas sem dúvida que James Cameron nos deu em “Avatar”, apesar de todas as suas lacunas, aquilo que Chris Marker dizia nos longínquos anos 50 do século passado: “O único instante prometedor para o futuro é um plano de Man in the Dark (onde se vê uma figura de um pássaro, uma jarra com flores, uma montanha russa e vários detectives…) onde não se passa absolutamente nada: uma mulher anda na rua, sai de um armazém e leva dois embrulhos. De repente, numa primeira paragem num quiosque, apercebemo-nos de uma parede afastada dela, sentimos o volume dos embrulhos, sentimos os contornos da sua cara e os seus ombros. Isto não dura mais que dois minutos, depois voltam a lançar-nos coisas à cabeça, mas tivemos enfim a sensação do espaço, e sabemos que isto pode ter um valor cinematográfico desde que os realizadores deixem de jogar apenas em nos fazer medo”.

O PRIMEIRO BEIJO. Os posters estão prontos, e o filme também – a questão é se os indianos também estarão... Dunno Y… Na Jaane Kyuné o primeiro filme indiano com um beijo gay. Já considerado, na Índia, como a resposta a Brokeback Mountain, conta a estória de um aspirante a modelo que vai para a capital indiana do cinema (Mumbai) à procura de fortuna e que se envolve numa relação homossexual. Segundo o editor da «Bombay Dost» (primeira revista gay indiana), o filme “parece bom, fala das dificuldades de ser gay na Índia. Os tabus ainda são muito fortes. Esperamos que nos ajude a ultrapassá-los”. Já o realizador, Sanjay Sharma, considera que o público de cinema da Índia é suficientemente maduro para lidar com a estória. “Até ao momento não penso em problemas, nem políticos nem de censura”.

Paulo Teixeira de Sousa

Conservatório de Música do Porto


  
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Edição:

Edição N.º 189, série II
Verão 2010

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