Basta flanar pelos espaços-tempos das escolas para observarmos uma enorme quantidade de cartazes e painéis compostos por fotografias. Esses artefatos são fabricados tanto para mostrar ou realizar práticas educativas como para construir a memória das instituições. Em minhas ‘andanças’ por escolas públicas brasileiras, vi e fotografei vários cartazes e painéis, confeccionados por alunos e por professores, nos quais eram utilizadas fotos feitas por eles mesmos ou recortadas de revistas e jornais. Alguns cartazes, produzidos por alunos como trabalhos de diversas disciplinas, utilizavam fotografias de jornais e revistas, que, deslocadas dos contextos originais, produziam outras mensagens com as marcas dos praticantes da cultura (Michel de Certeau, «A invenção do cotidiano: artes de fazer»). Essa lógica operatória, muito comum na Escola, pode ser observada também em cartazes confeccionados por professores e pedagogos para divulgar eventos dos mais diversos tipos. A maior parte dos painéis fabricados por professores, contudo, foram criados para registrar atividades pedagógicas desenvolvidas pela escola ou para marcar datas importantes para a instituição e seus membros. Nesses casos, as imagens têm a função de fixar na memória de todos, para salvaguardar do esquecimento, a história da instituição. Um processo que implica em construção e afirmação de identidade, pertencimento e produção de sentido para o cotidiano. Entendo que as fotos produzidas na/pela escola funcionam como as fotografias dos álbuns de família. Segundo Susan Sontag, “por meio das fotos, cada família constrói uma crônica visual de si mesma – um conjunto portátil de imagens que dá testemunho da sua coesão” («Sobre fotografia»). Fotografamos apenas o que consideramos que vale a pena, o que queremos que fique. Por isso, para José de Souza Martins, a fotografia não é memória, mas aponta para a memória e tece uma história por meio de revelações e ocultações («Sociologia da fotografia e da imagem»). As práticas de fotografar sugerem uma ampla necessidade de passado na vida cotidiana, de um modo de viver o presente recusando seu caráter passageiro. Conforme esse autor, há uma dramaturgia na vida social que torna a fotografia necessária. Ela tornou-se um fator de introdução de um tempo prospectivo em vidas vividas em que a visibilidade da condição social se apóia não só na exacerbação do aparente, mas transforma-se em meta de vida. Dessa forma, a fotografia entra nos processos interativos, dos quais ela é, ao mesmo tempo, instrumento e indício. Aplicada à pesquisa científica e às práticas educativas, a fotografia tem sido usada para testemunhar, ilustrar, comprovar, rememorar. Contudo, como adverte Boris Kossoy («Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo»), o índice fotográfico é um indício, uma pista, e não deve ser tomado dogmaticamente como uma verdade histórica e sim como um produto e um processo de criação/construção ambíguo por excelência. As fotografias nas/das/com as escolas são, portanto, documentos ambíguos de cotidianos ambíguos, que contêm em si realidades e ficções, vivências e prospecções. Documentos que devem ser analisados na unidade desses aspectos.
Maria da Conceição S. Soares
Faculdade de Comunicação Social FAESA (Espírito Santo, Brasil)
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