De 23 a 25 de Abril, decorreu na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) de Leiria o XXIV Encontro Galego-Português de Educadoras e Educadores pela Paz. A abertura foi feita por Helena Proença, presidente da Associação Galego-Portuguesa de Educação Para a Paz (AGAPPAZ) em Portugal, Carmen Diaz Simón, coordenadora da mesma associação, e Luís Filipe Barbeiro, director da ESECS.
Os trabalhos. Nos três dias que durou a iniciativa, houve espaço para conferências sobre Educação, Justiça e Solidariedade na Construção da Paz – que era o tema do encontro –, Mediação Sociopedagógica na Escola, Oficinas de Danças do Mundo, Ferramentas para a Formação de Professores-Tutores, Teatro para a Paz e Paz pela Expressão Teatral, Comunicação Afectiva e Comunicação Efectiva, Confecção de Bonecos de Papel, Oficina de Fotografia e apresentação de experiências, comunicações e materiais pedagógicos diversos.
O livro. No livro publicado com os trabalhos apresentados, o texto de abertura (Américo Nunes Peres) dá o tom para a leitura da obra, ao debruçar-se sobre o contributo de Xesus Jares, pai-fundador do movimento dos Educadores pela Paz, com o seu livro “El placer de jugar juntos. Nuevas técnicas y juegos cooperativos”. Construindo pontes entre a teoria e a prática, o professor Xesus Jares gostava de intervir, de melhorar as coisas, de assumir responsabilidades cívicas, mas também de conceber projectos que pudessem mudar crenças, negociar conflitos e apostar nas relações humanas. Grosso modo, o livro está depois dividido em quatro grandes partes. Na primeira, justamente intitulada Educação, Justiça e Solidariedade na Construção da Paz, os textos dos professores Isabel Baptista e Xosé Manuel Cid Fernández marcam o compasso do encontro. Isabel Baptista analisa a paz como exigência ético-antropológica, onde os humanos são hóspedes uns dos outros ao longo da vida. É aqui descortinado “o lugar da educação, da justiça e da solidariedade na construção da paz enquanto exigência de contemporaneidade, cujo sentido primordial emerge na experiência intersubjectiva que, ao abrir a liberdade à alteridade, chama os sujeitos para um modo de ser com o outro indissociável da responsabilidade de ser para o outro”. As palavras de Cid Fernández investem, por sua vez, na reconceptualização dos termos que incluem o título do evento, ao colocar a leitura da paz numa concepção positiva que é fundamentada noutros conceitos inter-relacionados: desenvolvimento, não só na sua perspectiva económica; solidariedadeenquanto ideia superadora do conceito tradicional da caridade; justiça, não só entendida na dimensão legalista, mas também na componente social, de igualdade e reciprocidade. Na segunda parte, reflecte-se sobre a Mediação Sociopedagógica na Escola, iniciando-se o diálogo com Rita Gradaílle e Tânia Iglesias, que nos trouxeram a discussão da igualdade de género nos cenários escolares e sociais. Para as autoras, apesar dos avanços nas políticas sociais e educativas, a discriminação das mulheres mantém-se viva por detrás de cenários mais ou menos invisíveis. A educação social é vista como uma potencial prática mediadora e potenciadora da igualdade de género. O texto de Pedro Silva, Conceição Coelho, Conceição Fernandes e Joana Viana levou ao debate a problemática da mediação sociopedagógica na escola através da promoção de uma reflexão teórica e conceptual e da apresentação de três projectos. Rosa Marí Ytarte mostra, em Mediación Socioeducativa desde una Perspectiva Intercultural”, como o pluralismo cultural, nas escolas de hoje, está associado, por vezes, a formas violentas de relação e comunicação na infância e na juventude. A mediação socioeducativa surge aqui como uma das vias para abordar as novas formas de comunicação e convivência educativa. Ricardo Vieira, por seu lado, pensa a Escola como um microcosmos da sociedade, um lugar de encontros e desencontros de pessoas, de diferentes culturas, de diferentes pontos de vista, de vários saberes, de continuidades e descontinuidades entre escola e lar, onde se abre um campo vasto de actuação ao Técnico Superior de Trabalho Social (TSTS), ao assistente social, ao educador social, aos animadores culturais e a outros cientistas sociais, como antropólogos, psicólogos, sociólogos, enquanto mediadores sociopedagógicos e, nomeadamente, na dinamização de equipas multidisciplinares de apoio aos docentes. A terceira parte do livro, Oficinas/Obradoiros, mostra, entre outras, as potencialidades das danças de tradição, do teatro e da confecção de bonecos de papel, da psicologia positiva e da comunicação afectiva e efectiva na construção da paz. Finalmente, Experiências, Comunicações e Materiais dá conta de estudos apresentados em torno da educação pela paz, da mediação e da educação social, da formação de professores e, por último, de experiências concretas com alunos dos ensinos Básico, Secundário e Superior na construção da paz.
A animação. Entrosadas com toda a actividade científico-pedagógica estiveram a música e a animação cultural. Na primeira noite, a actuação do grupo musical Luangraal, que cantou e encantou 250 espectadores inquietos no auditório, que acompanharam com palmas e coros, essencialmente nas cantigas de Zeca Afonso, foi o ponto alto da sinergia galego-portuguesa. A noite de 24 de Abril trouxe a Festa da Paz, que esperou pelas 24 horas para assinalar o 25 de Abril com a distribuição de cravos vermelhos e muita animação bilingue e intercultural, com cânticos alternadamente galegos e portugueses. Como vem sendo hábito nestes encontros, a noite entoou mais forte com o cantar e viver da “Grândola Vila Morena”, que pôs todos de pé, em delírio musical e numa performance carregada de grande simbolismo. O dia 25 de Abril trouxe o encerramento e, como tem sido habitual, a largada de uma pomba construída pelos artistas do evento, acompanhada por um grupo de gaitas-de-fole, deu o sinal da separação física de um grupo de gente amiga que quer permanecer ligada em torno dos valores da Paz e da Democracia.
Américo Nunes Peres (UTAD) Ricardo Vieira (IPL)
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