Página  >  Edições  >  Edição N.º 187, série II  >  Professores em tertúlia na Madeira: viver a profissão como arte do encontro

Professores em tertúlia na Madeira: viver a profissão como arte do encontro

Tendo como tema Profissão Professor: Encontros/Desencontros, o Sindicato dos Professores da Madeira promoveu uma tertúlia educativa animada por Ariana Cosme e Isabel Baptista, respectivamente das universidades do Porto e Católica – simultaneamente, dois nomes da PÁGINA.
A iniciativa pretendeu reunir educadores e professores num espaço informal (um café do Funchal) para conversarem sobre a condição da profissão. Como referiu Isabel Baptista nas conclusões, este tipo de encontro (“falar em conjunto”) constitui uma mais-valia profissional, importante para a saúde da classe docente. São “espaços para respirar”.
Espaços para respirar que José Gil denomina de espaços públicos e abertos, de “expressão e de trocas, para que a liberdade e a criação circulem num campo social” [«Portugal hoje, o medo de existir»]. Espaços, portanto, de comunicação (pensamento) com poder de construção e transformação (acção) colectivas.
Foi, aliás, nesse “construir colectivo” que Isabel Baptista colocou o enfoque, considerando a profissão docente como a “arte do encontro” e relevando a importância de os docentes se encontrarem fora das rotinas do dia-a-dia, em dinâmicas de encontro e comunicação que também devem acontecer a outros níveis, nomeadamente, com os estudantes, os pais, a comunidade.
Uns dias antes, também no Funchal, já Viriato Soromenho-Marques (numa conferência intitulada A árdua procura da felicidade: construir a solidariedade na proximidade da solidão) referira que o acto de “pensar é sempre pensar com”, “é sempre uma obra colectiva”, “num processo de argumentação e contra-argumentação” em que cada um “vai alargar os seus horizontes”.
Nas conclusões do debate, sobressaiu a ideia de que defesa da cultura escolar e da dignidade da profissão docente, bem como a afirmação e a valorização social dos professores, também passam por aqui – pelo “falar em conjunto”, que Isabel Baptista reputou de fundamental, mesmo enquanto espaço para “tagarelar”.
Nesta perspectiva, a autora de «Dar rosto ao futuro: A Educação como Compromisso Ético», concluiu que a criação de dinâmicas de encontro, seja no formato tertúlia ou outro, constitui uma oportunidade privilegiada para pensar e “definir o carácter e sentido da profissão docente” e para consolidar a “nossa união” enquanto classe profissional.

Encontros e desencontros

Para além das experiências e encontros na profissão, os professores e educadores presentes deram conta de vários desencontros (problemas) que os inquietam: desvalorização social da profissão, indisciplina e violência, desautorização do professor, falta de condições de trabalho, cultura social que não estima a Escola, crise dos “valores estruturantes” (património) da aprendizagem escolar...
Contudo, apesar do mal-estar na Escola e do “ataque à profissão, para tornar a mão-de-obra mais barata”, ninguém pode esconder a “importância da profissão docente”, referiu Ariana Cosme, salientando que, às dificuldades, os professores contrapõem a sua “forte consciência profissional” e o seu “trabalho com dignidade».
A importância do professor foi realçada também por Isabel Baptista – “nada substitui o conhecimento que é transmitido por outra pessoa”, afirmou, contrariando o pensamento de alguns autores que falam no fim da Escola.

Escola a duas velocidades

Muita da tensão actual acontece entre as duas velocidades da escola pública portuguesa, como referiu Isabel Baptista, citando António Nóvoa. Uma tensão não resolvida entre a escola de acolhimento social – “fora dos muros da escola é tudo mais perigoso”, sublinhou Ariana Cosme – e a escola enquanto lugar de aprendizagem, de cultura de ensino, de ferramentas para a sabedoria.
Ariana Cosme reconhece que “não conseguimos ainda tornar útil o tempo que os alunos passam na escola”, para se elevar o nível de conhecimento e de competências da população estudantil e, por conseguinte, os padrões de qualidade do ensino.
Resolver essa tensão (impasse) na escola a duas velocidades é o desafio para o qual diferentes actores apontam diferentes caminhos, mas é essencial haver “vontade política”, dos governos e das escolas, para dar o salto qualitativo para uma escola a uma só velocidade, referiu um dos participantes na tertúlia. 

Nélio de Sousa


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

Edição N.º 187, série II
Inverno 2009

Autoria:

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo