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José Paulo Serralheiro e a reinvenção do futuro

Dizia José  Paulo Serralheiro, no editorial da edição de Verão de A Página da Educação, “Razões inesperadas relacionadas com a minha saúde fizeram com que este projecto [o desenvolvimento de um Portal na Internet e a edição de um número da revista no primeiro dia de cada estação] sofresse três meses de atraso.
Embora não ultrapassadas as razões, mas mais adaptados e capazes de lidar com a realidade, vimos agora dar os primeiros passos na concretização dos objectivos que anunciámos e assumimos”. A lucidez tranquila com que enfrentou a doença poderia ser uma maneira de eu falar aqui acerca do José Paulo. Há, aliás, muitas maneiras possíveis de falar acerca dele: a partir do seu percurso no sindicalismo, na educação, na edição, a partir do impacte que as iniciativas editoriais a que esteve ligado tiveram e têm no campo educativo em Portugal, etc. Porém, neste momento de o lembrar, é o seu modo muito peculiar de ser e estar como pessoa e como intelectual que me vem às mãos na escrita deste pequeno texto.
Conheci o José  Paulo Serralheiro em 1997, quando, com Stephen Stoer, iniciei uma colaboração regular com o jornal mensal A Página da Educação. Foi também a Profedições que editou alguns dos nossos trabalhos. O seu posicionamento nos campos da educação, do jornalismo e da edição, fazendo pontes e equilíbrios entre a reflexão teórica e o quotidiano do trabalho educativo, designadamente dos professores, fez dele uma referência nesses três campos. Mas uma referência que estava longe de ser neutra em relação aos propósitos sociais e políticos da educação.
E é a propósito deste ponto onde convergem o intelectual, o professor, a pessoa e o editor, que gostaria de evocar uma conversa que com ele tive, não há muito tempo. A rubrica que eu, enquanto colaborador, estava (e ainda estou) encarregue de coordenar tinha (e tem) a designação de Reconfigurações. Contei-lhe que um dos nossos autores, Roger Dale, era crítico em relação a este nome. O argumento era que o termo reconfigurações remetia para uma concepção mitigada, quer das transformações objecto de análise, quer das ambições sociais e políticas dessas mesmas transformações. Recordo que o José Paulo ouviu, com um sorriso atento, e, no tom pausado com que sempre falava, disse: “Às tantas, o Roger tem razão. Não podemos estar à espera que as recomposições, as recombinações, as reconfigurações dos sistemas sociais sejam o único suporte da mudança”. Continuou: “reinventar é mais forte do que reconfigurar. Parece trazer mais liberdade à inovação”. Fiquei com esta conversa na memória e, sempre que lhe enviava os meus artigos ou dos colaboradores da coluna, me sentia interpelado por ela. “Reconfigurar é diferente de inventar”.
O José  Paulo Serralheiro como professor, como sindicalista, como editor, como intelectual e como pessoa infundia, de facto, em todos os que com ele conviviam, o impulso para a invenção e para o recomeço constante e incansável, no sentido de mudar aquilo que é necessário mudar. E isto é raro.  
Mas, na próxima estação do ano, na nova edição da revista, lá estará, de alguma maneira, o José Paulo a reconfigurar o presente pela reinvenção de novos futuros. Connosco.

António M.Magalhães

 

 


  
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Edição:

Edição N.º 186, série II
Outono 2009

Autoria:

António M. Magalhães
Univ. do Porto
António M. Magalhães
Univ. do Porto

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