O antropocentrismo, por si só, já representa uma atitude desmedida do humano sobre os demais seres vivos. No entanto, há uma particular idéia fundada em suas bases que parece não causar nenhum espanto entre nós, mesmo nos dias atuais, o que nos leva a algumas reflexões. É o caso dos alimentos exóticos. Pelo menos aqueles tipos que não fazem parte de nossas necessidades fisiológicas e que, de antemão, podemos classificá-los como supérfluos. Em muitos casos que envolvem esses tipos de alimentos exóticos, ainda que estejam incluídos outros aspectos, como o cultural (por que cultura traz tantas imunidades?), sobressaem alguns paradoxos que ultrapassam todas as necessidades biológicas e chegam às raias da insanidade. Sem contar, ainda, as respectivas conseqüências ecológicas e os diferentes impactos e/ou conflitos sociais. Se há diferentes motivos para que pessoas defendam a prática dos alimentos exóticos, encontramos razões mais consistentes, saudáveis e profícuas (especialmente para o planeta Terra) no lado das considerações contrárias. Esses argumentos contrários poderiam muito bem seguir por linhas da racionalidade científica ou necessidades advindas do atual estádio em que nos encontramos no mundo atual, ou seja, busca de maior responsabilidade sobre a ecologia global. Ou, ainda, tais argumentos poderiam mesclar realidade e ficção, com proveitos extraídos, por exemplo, do enredo do filme originalmente intitulado "Soylent Green" (no Brasil, "No mundo de 2020" ? história de um mundo afetado por sérios problemas ambientais e alimentares). No entanto, isso demandaria um espaço maior do que o disponível neste artigo. Então, quem sabe, a simples menção de exemplos e o exercício de buscar respostas a alguns questionamentos sirvam às nossas pretensões de reflexão. Não é difícil enumerar exemplos de alimentos exóticos. Assados, fritos ou ensopados, inteiros ou em pedaços, a lista inclui macacos, jacarés, cobras, morcegos, cães, escorpiões, centopéias, aranhas, tartarugas, baratas, lagartos, gafanhotos. E o que dizer daqueles que não mais são considerados exóticos, como ostras, caranguejos, lagostas, polvos, lulas, tubarões? Afinal, o ser humano precisa disso tudo? Quem decide e quais os critérios de escolha para colocar esses animais à mesa? Qual é o perfil financeiro das pessoas que consomem iguarias desse tipo? O consumo ocorre por necessidade ou excentricidade? Qual o preço moral e ecológico dessa prática consumista? Quais são os controles sobre o abate e comercialização desses animais? Quem ganha e quem perde com tudo isso? Por fim, inserimos apenas os animais na discussão, mas poderíamos nos estender também aos vegetais. E aí falaríamos, por exemplo, sobre o palmito Jussara (Euterpe edulis), mas o espaço deste artigo, como já mencionamos acima, é curto demais para abordar toda a marginalidade subjacente. Queremos um mundo melhor em tudo e para todos? Então, fica uma última pergunta: Como esse tema dos alimentos exóticos é tratado com as crianças, em nossas escolas?
Júlio César Castilho Razera
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