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Avaliação Do Desempenho Dos Professores (II)

A avaliação pode ser um poderoso meio de melhoria das práticas escolares. No entanto, não se pode daqui deduzir que, qualquer avaliação é, em si mesma, uma coisa boa. É preciso compreender que a avaliação, por si só, não resolve magicamente os problemas. Uma boa avaliação ajuda-nos a compreender melhor uma dada realidade e pode contribuir para a melhorar e para a transformar. Mas teremos sempre que saber utilizar bem os seus resultados e recomendações e saber reconhecer os seus limites.
Não podemos deixar que a avaliação se banalize no pior sentido e se transforme num mero procedimento de controlo burocrático-administrativo, em vez de um poderoso e exigente processo de regulação e de melhoria. E também é necessário garantir que os avaliadores não se transformem numa espécie de seres imaculados, acima de qualquer suspeita e de qualquer escrutínio? Sem quaisquer limites. Julgo que as escolas poderão ter um papel relevante na prevenção de situações indesejáveis.
Estou bem ciente do esforço que é necessário fazer para que a avaliação do desempenho dos professores não se reduza a um mero processo rotineiro no pior sentido, sem quaisquer consequências positivas na vida das escolas, dos alunos e dos professores. É, por isso, importante que as escolas promovam acções que facilitem a sua discussão para que o modelo possa ser bem conhecido e compreendido pelos professores.
Parece-me fundamental que se compreenda que estes processos se vão construindo a pouco e pouco. Não há modelos ou abordagens de avaliação à prova de todas as situações e problemas. Só as práticas reais nos permitem identificá-los e caracterizá-los com rigor.
É preciso que as escolas e os professores sejam realistas e modestos nas suas intenções avaliativas, reconhecendo que é impossível avaliar tudo, que é necessário identificar o que é fundamental e que mais vale avaliar bem do que avaliar muito. Estes são desafios para quem crê que a avaliação é também uma questão ética, que tem muito a ver com o bem estar das pessoas, das organizações e das sociedades.
Se a avaliação dos professores fizer parte integrante dos Projectos Educativos e das boas rotinas instaladas, não será provavelmente difícil que a avaliação formativa tenha um papel relevante e que a sua articulação com a avaliação legislada, de pendor mais sumativo, seja uma realidade naturalmente presente na vida das escolas.
Desta forma a avaliação será essencialmente uma oportunidade de desenvolvimento e de satisfação profissional dos professores, com importantes reflexos na qualidade do seu trabalho pedagógico e, consequentemente, nas aprendizagens dos alunos.
Melhorar a vida e o bem estar das pessoas, das organizações e das sociedades, isto é, contribuir decisivamente para a construção da justiça a todos os níveis e para a implantação de sistemas sociais e políticos plenamente democráticos, é também um dos mais prementes desafios às teorias, às práticas e às políticas de avaliação.
Se estivermos conscientes de que temos que olhar para a avaliação de forma crítica e informada, poderemos transformá-la numa importante alavanca de transformação e de melhoria da vida das escolas. E isto, como venho afirmando, significa mais e melhores aprendizagens, melhor ensino e melhores escolas públicas. Significa melhor futuro para as crianças e para os jovens e melhor futuro para o nosso País.
Por isso considero que é preciso pensar maduramente antes de agir e perceber que estamos perante um processo que tem que se ir construindo e consolidando com o tempo. Todos sabemos que os processos de transformação social e cultural não acontecem de um dia para o outro e também sabemos, da sabedoria popular, que devagar se vai ao longe...
O princípio está estabelecido. E era importante que assim acontecesse. Agora é necessário pensar, discernir e agir com tranquilidade e inteligência, fazendo da avaliação uma oportunidade de melhoria e de qualificação do sistema escolar.

Domingos Fernandes


  
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Edição:

N.º 182
Ano 17, Outubro 2008

Autoria:

Domingos Fernandes
Univ. de Lisboa, Fac. de Psicologia e de Ciências da Educação
Domingos Fernandes
Univ. de Lisboa, Fac. de Psicologia e de Ciências da Educação

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