Página  >  Edições  >  N.º 181  >  Quando desenhar vira esporte

Quando desenhar vira esporte

Estudo os usos das linguagens desenhadas na educação. Atualmente, estou trabalhando em parceria com o colega de grupo de pesquisa, o professor de educação física Fernando Macedo, mestrando no ProPEd/UERJ. Ele está desenvolvendo sua dissertação a partir de suas memórias e observações relacionadas ao ensino de educação física na escola e a inserção do esporte como conteúdo curricular desta disciplina. Para tecer seu texto, o Fernando conta, também, com relatos de professores e alunos sobre as práticas esportivas, mostrando, também, algumas tensões sociais geradas por essas práticas no cotidiano escolar.
O pesquisador escolheu, como uma das formas de linguagem para apresentar o seu trabalho acadêmico, as bandas desenhadas. Eu fui convidado por ele e seu orientador, o professor Paulo Sgarbi, para realizar as bandas desenhadas a partir das narrativas a serem incluídas e analisadas na dissertação.
Para iniciar essa experiência, precisei fazer um mergulho nos textos da dissertação para, depois, criar desenhos para compor o trabalho acadêmico. Fiz a leitura de parte dos textos que pretendia transformar em desenhos, mas, como a dissertação estava ainda em processo de criação, precisei me envolver mais com o trabalho do professor Fernando enquanto ele produzia novos textos simultaneamente.
As narrativas e entrevistas contidas na dissertação eram repletas de imagens e descrições de situações do cotidiano escolar, facilitando a minha tarefa de construir as bandas desenhadas.
O mestrando me deu a pista (Ginzburg, 1989 p. 150) sobre como pretendia que fosse o resultado do trabalho sugerindo que os desenhos poderiam ser apenas esboços, pois o mais importante para ele seria mostrar uma idéia geral das situações narradas e não retratar fielmente as pessoas envolvidas.
Esse trabalho conjunto gerou para mim uma oportunidade de aprendizado sobre as práticas esportivas na escola. Fernando, durante a elaboração do trabalho, me explicou detalhes que não conhecia do vôlei, sua especialidade, me mostrou fotos e vídeos sobre o assunto. Passei a entender um pouco das dificuldades enfrentadas por professores de educação física e seus alunos no cotidiano escolar.
Fernando mostrou interesse pelas minhas maneiras de fazer (Certeau, 1994, p. 35) os desenhos e, apenas com a sua observação, começou a esboçar seus próprios desenhos e depois passou a criar os layouts[1] para que eu pudesse desenhar posteriormente, o que demonstra um processo de aprendizado do desenho e do planejamento de bandas desenhadas realizado pelo mestrando.
Trazendo um pouco dessa experiência acadêmica para minhas práticas de ensino na escola, gostaria de proporcionar aos meus alunos oportunidades de aprendizado como essa que foi possível para nós dois em função do interesse mútuo e da necessidade de dar forma ao trabalho acadêmico em tempo predeterminado. O desafio que enfrento cotidianamente na escola é tornar as minhas aulas atrativas para os alunos a ponto de gerar o envolvimento deles no processo educativo. Para isso, tenho recorrido às linguagens desenhadas[2] para ensinar.

Referências Bibliográficas:

  • CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano ? artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. 
  • GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas e sinais. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.

[1] A linguagem do layout, na produção de bandas desenhadas, engloba desenhos rápidos, planejamentos de espaços, utilização de letras e balões para organizar a página que será, posteriormente, arte-finalizada.

[2] Considero como linguagens desenhadas as bandas desenhadas, as ilustrações, caricaturas, charges, cartuns, desenhos animados, mangás e outras formas artísticas ou comunicacionais que utilizem o desenho..

André Brown

  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 181
Ano 17, Agosto/Setembro 2008

Autoria:

André Brown
Cartunista, Mestre em Educação e membro do grupo de pesquisa Linguagens desenhadas e educação, coordenado pelo prof. dr. Paulo Sgarbi, ligado ao ProPEd / UERJ.
André Brown
Cartunista, Mestre em Educação e membro do grupo de pesquisa Linguagens desenhadas e educação, coordenado pelo prof. dr. Paulo Sgarbi, ligado ao ProPEd / UERJ.

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo