«Melhor é alguma coisa que nada.» Provérbio
É tempo de férias, ouvi dizer. Tempo de sair e de voltar, de esquecer e de lembrar coisas que queremos e não fazemos, porque há isto para organizar e aquilo para acabar; mas o tempo passa a correr e não dá tempo de as fazer e voltamos a adiar, dizendo das férias não vai passar!? É tempo de férias, sorri. Horas a fio sem tempo, porque em qualquer momento se pode ir e voltar, seja por terra ou por mar, seja parado ou a andar, seja acordado ou a sonhar. É tempo de férias e lembrei-me dos anos de há tanto tempo em que ir à praia era o fim mais esperado, a par de um excelente gelado; jogar ao prego, na areia, e aos ciclistas depois de fazer grandes pistas, eram as brincadeiras mais divertidas para fazer com o meu irmão (que tinha sempre razão!). É tempo de férias, bem sei. E com a escola fechada, para onde vai a criançada? Para onde vai a rapaziada? Dentro e fora de casa, o rodopio é constante; sossego e desassossego; silêncio e barulho inquietante. São férias! ? dizem eles ? e quer a gente queira ou não, eles têm razão. É tempo de férias, resmunguei. Tempo de calma, de sol, de calor. Onde é que já se viu neste tempo coisas de outro firmamento? É tempo de férias, sonhei. É desta que eu vou cumprir um devaneio antigo: pegar em mim e nos meus amados, escolher um destino de olhos fechados, apanhar o avião sem nada na mão e voar, voar para lá de mim, descobrir coisas sem fim e andar de lugar em lugar até que o desejo me faça voltar. É tempo de férias!? perguntei. Então o que faço eu, numa tarde de Agosto, tapada de papelada, mergulhada numa embrulhada e sentindo que o coração me está quase a ficar na mão? A justificação chama-se avaliação. A tal que depois de decretada ficou muito nublada e que, por tal, foi adiada. Mas não tarda, está de volta e a mim cabe-me uma mega missão que vejo em forma de vulcão e me deixa abalada, não só porque não estou preparada, mas também porque é coisa que não gosto nada. Onde está uma varinha de condão para esta difícil ocasião? É tempo de férias, eu sei, mas com tanto que não sei não posso fazer vida de rei nem fugir ao que venci. E ainda há outra razão, mas essa não digo, não. É tempo de férias, reconheço, e eu vou ficar aqui mesmo neste lugar, onde a terra não tem mar, mas as noites têm luar.
Betina Astride
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