Página  >  Edições  >  N.º 181  >  É tempo de férias

É tempo de férias

«Melhor é alguma coisa que nada.»
Provérbio

É tempo de férias, ouvi dizer.
Tempo de sair e de voltar, de esquecer e de lembrar coisas que queremos e não fazemos, porque há isto para organizar e aquilo para acabar; mas o tempo passa a correr e não dá tempo de as fazer e voltamos a adiar, dizendo das férias não vai passar!?
É tempo de férias, sorri.
Horas a fio sem tempo, porque em qualquer momento se pode ir e voltar, seja por terra ou por mar, seja parado ou a andar, seja acordado ou a sonhar.
É tempo de férias e lembrei-me dos anos de há tanto tempo em que ir à praia era o fim mais esperado, a par de um excelente gelado; jogar ao prego, na areia, e aos ciclistas depois de fazer grandes pistas, eram as brincadeiras mais divertidas para fazer com o meu irmão (que tinha sempre razão!).
É tempo de férias, bem sei. E com a escola fechada, para onde vai a criançada? Para onde vai a rapaziada? Dentro e fora de casa, o rodopio é constante; sossego e desassossego; silêncio e barulho inquietante. São férias! ? dizem eles ? e quer a gente queira ou não, eles têm razão.
É tempo de férias, resmunguei.
Tempo de calma, de sol, de calor. Onde é que já se viu neste tempo coisas de outro firmamento?
É tempo de férias, sonhei.
É desta que eu vou cumprir um devaneio antigo: pegar em mim e nos meus amados, escolher um destino de olhos fechados, apanhar o avião sem nada na mão e voar, voar para lá de mim, descobrir coisas sem fim e andar de lugar em lugar até que o desejo me faça voltar.
É tempo de férias!? perguntei.
Então o que faço eu, numa tarde de Agosto, tapada de papelada, mergulhada numa embrulhada e sentindo que o coração me está quase a ficar na mão? A justificação chama-se avaliação. A tal que depois de decretada ficou muito nublada e que, por tal, foi adiada. Mas não tarda, está de volta e a mim cabe-me uma mega missão que vejo em forma de vulcão e me deixa abalada, não só porque não estou preparada, mas também porque é coisa que não gosto nada. Onde está uma varinha de condão para esta difícil ocasião?
É tempo de férias, eu sei, mas com tanto que não sei não posso fazer vida de rei nem fugir ao que venci. E ainda há outra razão, mas essa não digo, não.
É tempo de férias, reconheço, e eu vou ficar aqui mesmo neste lugar, onde a terra não tem mar, mas as noites têm luar.

Betina Astride


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 181
Ano 17, Agosto/Setembro 2008

Autoria:

Betina Astride
Agrupamento Vertical de Montemor-o-Novo
Betina Astride
Agrupamento Vertical de Montemor-o-Novo

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo