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Novas Alternativas para a Educação: entre a nostalgia e a neofilia?

É já um lugar comum dizer-se que o mundo está a mudar de muito mais formas do que até aqui se tinha vindo a reconhecer, a um ritmo mais acelerado do aquele a que temos assistido, com mais amplas repercussões do que as anteriormente verificadas, etc.. Esta mudança é extremamente recente. Só mais ou menos nos últimos 5 anos, por exemplo, é que os que negavam as mudanças climáticas se tornaram nas aves raras e os profetas das mudanças climáticas se tornaram altamente escutados. E quando acerca de uma década que Ulrich Beck nos avisava que estávamos a entrar na 'Sociedade de Risco', assistimos à emergência de ameaças percebidas e de desafios de formas inauditamente novas.
Uma forma de distinguir estas mudanças e riscos é sob a forma de 'danos colaterais', inesperados - imprevisíveis e de origem difícil de identificar - e consequência de acções resultantes de comportamentos anteriores. Embora isto seja muito claro no caso das mudanças climáticas, também podemos encontrar evidências de danos colaterais na área dos riscos sociais, à medida que novas necessidades são geradas e que as velhas necessidades sociais tornam a surgir sob novas, mas ainda não identificáveis, formas, quase como as super bactérias hospitalares.
O que quero aqui sugerir é que a confusão produzida pela novidade e a inimputabilidade de dados tipos de problemas sociais com que actualmente nos deparamos está a provocar potencialmente, e de forma similar, 'novas' concepções daquilo que poderá constituir uma resposta eficaz a esses problemas, e que essas novas concepções têm claras implicações na educação.
Da mesma forma que os tipos de novos problemas identificados podem ser vistos, num certo sentido, como ortogonais em relação aos tipos de problemas sociais anteriores (que, diga-se, não desapareceram, ou se tornaram menos importantes), o mesmo acontece em relação às soluções. Isto pode ser ilustrado através da consideração de concepções alternativas para lidar com problemas sociais de há 15-20 anos atrás. A questão, à altura, era a de encontrar uma alternativa aos caminhos do Estado e do Mercado, e gerou uma hoste de fontes e de perspectivas alternativas 'suaves' - comunidade, solidariedade, rede, etc. - que culminaram no tipo de híbridos que surgiram sob a designação Terceira Via. A escolha agora é muito mais semelhante àquela entre procurar que o tempo volte para trás, revertendo as ameaças e os riscos, e confiantemente esperar por soluções tecnológicas que aceitamos que venham a surgir - escolha essa que podemos referir como a escolha entre 'nostalgia' e 'neofilia'.
O problema é que, obviamente, esta escolha cria novos 'espaços entre', e é a forma como esses espaços estão a ser ocupados que eu quero, ainda que de uma forma breve, destacar, na medida em que estão a gerar um potencialmente estimulante leque de alternativas, dando razões tanto para o optimismo como para o pessimismo. Num certo sentido, podem ser vistas como as netas dos 'novos movimentos sociais' que emergiram em resposta à percepção do autoritarismo e da esclerose dos governos sociais-democratas dos anos 1970, mas que foram veiculados pela maré neo-liberal. Talvez as formas mais comuns destas novas perspectivas sejam aquelas que estão a surgir sob a designação 'empreendedorismo social' e 'inovação social'. Aquilo que une estas respostas é o termo 'social', mas a forma como este termo é interpretado é, precisamente, aquilo que os divide, procurando o empreendedorismo social aplicar as disciplinas e os métodos do mundo das empresas para resolver problemas sociais, e a inovação social orientando-se no sentido de encontrar novas maneiras e novas ideias para alcançar objectivos sociais.
Têm também claras associações com a ideia de uma terceira via entre o Estado e o mercado, mas o terreno ideológico no âmbito do qual operam é muito diferente do da Terceira Via. Há 20 anos atrás, os problemas com o que o Estado, o mercado ou a economia tinham que lidar eram ainda assumidos como sendo passíveis de resolução pela acção pública; eram a composição e a coordenação dessa acção pública que estavam precisamente em causa. Hoje, os objectivos são muito mais modestos, fragmentados, de curto prazo ? e 'locais'.
Neste ponto, contudo, termina a semelhança e o interesse para os educadores começa. Esse interesse assume, é claro, muitas formas, mas aquilo que distingue tanto o empreendedorismo social como a inovação social das respostas da 'Terceira Via' é que esta concebia os problemas e as questões com que a 'educação' se deparava como sendo, efectivamente, a própria 'educação', estando as contribuições que veiculava em clara continuidade com as formas que as precederam; a natureza dos problemas era concebida essencialmente da mesma forma, assim como o era a natureza da capacidade da 'educação' para contribuir para a sua solução.
Estas abordagens 'sociais' diferem desta perspectiva de três maneiras principais. Primeira, podemos inferir que o âmbito das suas actividades educativas é muito diferente. Num certo sentido, uma forma pela qual elas identificam a sua diferença é a sua disponibilidade para desassociar as suas actividades do corpo central das actividades educativas; não sendo necessário considerar as consequências mais amplas daquilo que é implicitamente visto como uma reunião contingente e não necessária de elementos num único sistema designado como educação. Paralelamente, isto corresponde a um reconhecimento de que os processos de educação 'normais' criam eles próprios 'danos colaterais', que não podem, nem tal é possível, por si mesmos atenuar a uma escala mais ampla.
A segunda diferença sobrepõe-se a isto, ao distinguir um conjunto diferente de actividades e actores envolvidos no desenvolvimento da educação. Em particular, a ideia, e a importância, dos 'stakeholders' está muito disseminada nas diferentes intervenções 'sociais' e veicula um leque muito diversificado de conotações em relação às tradicionais assumpções acerca de como a educação deve ser desenvolvida.
E a terceira é que todos estes elementos em conjunto abrem não só novos espaços para as actividades educativas, mas também novas formas de actividades educativas.
Um exemplo, a este propósito, é o da adaptação das técnicas dos jogos de computador, por um lado, ou sites de redes, por outro, como modelos que podem ser considerados pelas abordagens sociais, e como uma fonte aberta de métodos de produção de conhecimento enquanto modelo para a construção de um novo tipo de curriculum.
Especulação? Sem dúvida - mas não mais do que a Nostalgia ou a Neofilia, e muito mais honesto em relação ao que está em causa.

Roger Dale


  
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Edição:

N.º 179
Ano 17, Junho 2008

Autoria:

Roger Dale
Univ. de Bristol, Grã-Bretanha
Roger Dale
Univ. de Bristol, Grã-Bretanha

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