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O director da escola

O regresso do director de escola não é algo de novo para mim. Como se sabe, existem vários modos de mudar as práticas de uma escola no sentido de a melhorar. Um deles é coagir e comandar as pessoas através de uma posição de poder e autoridade. O director de escola assume aqui um papel preponderante, impondo mesmo alguns modelos contra a vontade das pessoas. O director tem o direito e o dever de usar a sua autoridade para «colocar ordem na casa», principalmente para os que não cumprem as suas responsabilidades e violam os princípios e as políticas estabelecidas no estabelecimento de ensino.
Desaconselhado por muitos que desejam realizar reformas nas escolas - e nada aconselhável neste período de insegurança no emprego -, o certo é que por vezes o verbo impor parece ser a única maneira de lidar com aquelas pessoas que só cumprem verdadeiramente as suas tarefas e só modificam os seus comportamentos quando supervisionadas ou intimidadas por um superior. Lembro-me perfeitamente no meu primeiro ano de serviço em que as auxiliares de acção educativa assinalavam, de uma forma completamente histérica, a chegada dos inspectores à escola. Lembro-me, nesse mesmo dia, de os professores cumprirem religiosamente o horário do intervalo da manhã, enquanto nos outros dias «arrastavam-se» na sala de professores por mais cinco ou dez minutos. Lembro-me de querer alterar algumas rotinas da escola e dizerem-me que já não tinham idade para tal. E passados tantos anos, será que se deslumbra grandes alterações? E será que a nova avaliação individual dos professores vai transformar e melhorar as práticas nas escolas?
Todos nós, porventura, já caímos naquela "armadilha cultural", consequência da educação autoritária e ameaçadora que a maioria recebeu e continua a transmitir. Contudo, nunca é tarde para repensar as nossas convicções. Não mudamos o mundo num só dia, mas poderemos mudá-lo diariamente com pequenos gestos. Por conseguinte, creio que existem outros caminhos mais compartilhados para realizar a mudança na escola e na sociedade, contrariando assim a teoria X de MacGregor, segundo a qual o ser humano não gosta de trabalhar, evita o trabalho enquanto for possível e por isso a administração pressiona-o para obter produtividade. Aliás, é imprescindível que percorramos e experimentemos novos trilhos, porque tem sido notório que muita gente ainda precisa de aprender a viver nesta nossa democracia imatura! É necessário acreditar, parafraseando Helena Roseta (2007) no livro sobre a campanha presidencial de Manuel Alegre, que conseguir o "impossível" está afinal ao nosso alcance. E o "impossível" é tão-somente construir uma Escola saudável, que implica confrontação de ideias, debate aberto, reflexão crítica, liberdade de expressão, mas também entusiasmo, dedicação, trabalho de equipa, competência e responsabilidade.

Miguel Gameiro Silva


  
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Edição:

N.º 178
Ano 17, Maio 2008

Autoria:

Miguel Gameiro Silva
Ponta Delgada. Açores
Miguel Gameiro Silva
Ponta Delgada. Açores

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