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Os iletrados do mundo não lêem. Mas falam e falam. De tragédias

Para o meu amigo, o Educador José Paulo, activíssimo sindicalista que sabe ensinar. Com ele tenho aprendido.

Sabemos que em Portugal existem pessoas que apenas sabem ler ou escrever o seu nome. Esse analfabetismo tem diminuído, especialmente entre as mulheres, mas entre os homens está estacionário[1]. São pessoas para quem a televisão e os filmes que nela passam, não são perceptíveis. Recorrem às séries que passam no pequeno ecrã, a maior parte delas compradas ao Brasil. A consequência desta situação é evidente: a nossa língua lusa perverte-se com palavras em ditongo, com palavras cheias de amargura, retiradas das famosas telenovelas, que apenas são tristezas, separações, enganos, traições, quem aparece primeiro ganha a quem vem atrás, ou, pior ainda, reflectem uma realidade que faz da vida um eterno pesar. Se repararmos na TV portuguesa, estes problemas começam de imediato nas filmagens de telenovelas retiradas dos modelos brasileiros. Modelos de tragédia passados de boca em boca entre vizinhos e amigos. A Espanha resolveu o problema de uma maneira pragmática, mas sem respeito à capacidade do que eu denomino o processo de ensino-aprendizagem[2], conceito definido no meu texto 1994[3], no meu texto: "O processo Educativo: Ensino ou Aprendizagem?"[4].
Muitos esforços temos feito, não apenas no Jornal A Página da Educação, bem como entre os intelectuais da Revista abaixo referida, e entre os Professores, ao nos disponibilizarmos para o ensino nocturno, em escolas ou sedes Sindicais. Lições aprendidas com o meu falecido amigo Paulo Freire[5]. De certeza aprendidas também pelo militantissimo, como diz José Madureira Pinto, ao falar do Educador José Paulo Serralheiro, que tem tido a capacidade, a valentia e a persistência, não apenas de fundar este Jornal, bem como a valentia de ser destemido e entregar toda a sua actividade à Educação. Em todas as edições, este educador, alfabetiza adultos ao debater a educação e o papel da escola e dos docentes dentro desse processo. Paulo Serralheiro alfabetiza ao retirar conceitos das actividades gravadas no afazer do trabalho. Assim, dedico este texto a um dos melhores Educadores de Portugal.

Nota do autor sobre mês passado

Meus Caros

Uma nota de advertência. O meu texto escrito em 8 de Março de 2008 tem sido abusado, o que deturpa a realidade. Assim, permitam o seguinte reparo:
Agradecia aos Senhores Leitores da Página da Educação, que notassem que o meu texto de 8 de Março de 2008, é endereçado de forma amável a uma pessoa de respeito e que faz parte dos depositários da Soberania da Nação, como define a Constituição.
É apenas uma advertência para a Ministra, e não, como tem sido dito em muitas mensagens que me são enviadas, uma manipulação do currículo da Senhora Ministra. É apenas uma opinião de um seu velho professor que defende os nossos direitos e formas de ensinar, atropeladas como estão, pelas novas ideias da senhora Ministra.
Notem que a carta aberta é endereçada a Maria de Lurdes, pessoa da minha consideração. Em parte nenhuma digo que tenha sido professora primária, como é referido em imensos blogs na Net, que usaram o meu texto em prol da nossa causa.
Essa causa é também minha, mas não posso consentir que se deturpe o seu conteúdo em nome de uma luta justa que, para ser válida, deve começar por comentar a realidade e não usar o meu texto para acusações contra a pessoa. Atacar pessoas é lesivo e cobarde. O meu texto é sobre Educação, sobre política educativa!
Cumprimentando os leitores e os bloguistas da Net, não retiro nada do que no meu texto está escrito, mas solicito que vejam ai o que interessa: uma luta por uma política educativa conveniente e adequada, e não o objectivo de ferir uma representante da nossa Soberania Nacional.
Centrar críticas sobre a pessoa, leva a luta para longe do seu alvo: uma melhor política educativa, já definida por Émile Durkheim para o Governo de Gambetta na França Socialista de 1903, e no meu texto da Afrontamento de Junho de 2007, entre outros, como os que tenho publicado na Página da Educação, entre outros, e da esclarecida entrevista do Prof. José Madureira Pinto também aqui publicada no mesmo número de Abril.

[1] Dez por cento de analfabetos em Portugal Educare ( 22-10-2002 ) Dez em cada 100 portugueses são analfabetos e apenas um terço completou o 1.º ciclo do Ensino Básico. Os resultados do Censos 2001 revelam também que são as regiões do Sul do País que registam a maior taxa de analfabetismo.

Embora a taxa de analfabetismo tenha diminuído ligeiramente desde o último censos (1991), actualmente, 9 em cada 100 portugueses, com 10 anos ou mais, não sabem ler nem escrever, conforme os resultados definitivos do Censos 2001. O sexo feminino continua a ser o mais penalizado, enquanto que, a nível geográfico, os distritos do Sul do País são os que registam uma maior taxa de analfabetismo. Para saber mais, visite a página web: http://www.liberdade-educacao.org/doc_avaliacao/dezporcento.htm

[2] Conceito par o qual tenho um copy right©, assinado ante Notário e reconhecido pela Sociedade Portuguesa de Autores, SPA, da qual sou membro.

[3] Conceito par o qual tenho um copy right©, assinado ante Notário e reconhecido pela Sociedade Portuguesa de Autores, SPA, da qual sou membro.

[4] Retirado da nossa Revista Educação, Sociedade e Culturas, Revista da Associação de Sociologia e Antropologia da Educação, Afrontamento, Porto, pp. 29-51, desaparecida pela infeliz morte do nosso Director, o meu amigo Stephen Stoer, faz dois anos a esta data.

[5] Em carta a Professores, Paulo Freire diz: NENHUM TEMA mais adequado para constituir-se em objeto desta primeira carta a quem ousa ensinar do que a significação crítica desse ato, assim como a significação igualmente crítica de aprender. É que não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quem aprende. Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, porque, observado a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, o ensinante se ajuda a descobrir incertezas, acertos, equívocos. Retirado de: Estud. av. vol.15 no.42 São Paulo May/Aug. 2001, da página web: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000200013  (escrito em brasileiro este original do Paulo Freire)

Raúl Iturra


  
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Edição:

N.º 178
Ano 17, Maio 2008

Autoria:

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa

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