A agência da ONU para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) advertiu recentemente os países exportadores de bens agrícolas para a necessidade urgente de alterarem radicalmente as suas políticas de forma a evitar uma explosão social no mundo e um colapso ambiental. Esta advertência consta das conclusões de um relatório elaborado por mais de 400 especialistas internacionais, representantes governamentais e da sociedade civil, e é divulgado num momento em que cresce o alarme relativamente aos distúrbios sociais e políticos que o aumento do preço dos alimentos poderá provocar em várias regiões do mundo. A organização prevê que os preços dos alimentos de primeira necessidade, como o arroz e o trigo, continuarão a subir e poderão desencadear crises sociais sobretudo nos países mais pobres. "É preciso conciliar objectivos contraditórios, ou seja, produzir mais, mas também produzir de maneira diferente para responder tanto às necessidades alimentares como aos desafios em termos de saúde, ecologia e às funções sociais da agricultura", referiu Guilhem Calvo, do departamento de ciências ecológicas e da terra da Unesco. Os autores do documento enfatizam o risco que constituiu, neste contexto, a produção de biocombustíveis para a segurança alimentar do mundo. Uma preocupação partilhada pelo director executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, que afirmou recentemente que a produção de biocombustíveis a partir de alimentos apresenta um "verdadeiro problema moral", especialmente num momento em que os países pobres enfrentam uma grave crise alimentar. "O problema energético do planeta é muito importante, mas não vai ser resolvido com os biocombustíveis. Os motores a hidrogénio serão muito mais eficazes daqui a alguns anos e os biocombustíveis não podem ser uma alternativa quando as pessoas correm o risco de morreram de fome", alegou. O ministro francês de Agricultura, Michel Barnier, afirmou também que "a produção agrícola com fins alimentares deve ser claramente prioritária", tendo proposto uma iniciativa europeia que contribua para atenuar o aumento de preços das matérias-primas e a crise alimentar. Em declarações a uma rádio alemã, o relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler, classificou a produção maciça de biocombustíveis como um "crime contra a Humanidade" pelo seu impacto nos preços mundiais dos alimentos. Ziegler alia-se deste modo aos críticos deste recurso que afirmam que o uso de terras férteis para produzir este tipo de combustível reduziu as superfícies destinadas aos alimentos, desencadeando assim a inflação dos produtos alimentares. Neste contexto, o Programa Mundial Alimentar da ONU (PAM) anunciou que reviu em alta as suas necessidades para enfrentar o aumento do preço dos alimentos básicos e exige 756 milhões de dólares (476 milhões de euros) adicionais para enfrentar a crise. Em Março, o PAM já havia solicitado um aumento de 500 milhões de dólares num orçamento anteriormente avaliado em 2,9 mil milhões de dólares para 2008. "Até agora recebemos 900 milhões de dólares, o que representa apenas 20% das nossas necessidades", disse à imprensa Christiane Berthiaume, porta-voz do PAM, sedeado em Genebra.
AFP
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