Página  >  Edições  >  N.º 177  >  Racismo e feminismo: cartas a jogar por Hillary e Obama?

Racismo e feminismo: cartas a jogar por Hillary e Obama?

Para os seus partidários, um é vítima de sexismo e o outro de racismo, mas o certo é que no meio da disputa pela candidatura democrata entre Barack Obama e Hillary Clinton alguns começam a ficar inquietos com o rumo que pode tomar a campanha.
Em Março, o tema racismo chamou a atenção quando uma aliada de Hillary, a ex-candidata a vice-presidente Geraldine Ferraro, disse: "Se Obama fosse um homem branco, não estaria onde está actualmente (...) e se fosse uma mulher, independentemente da sua raça, não estaria onde está. Tem muita sorte de ser quem é".
Ao justificar os comentários, Ferraro acusou Obama de "jogar a carta do racismo" e a sua equipa de ter deliberadamente criado a polémica. Antes de romper os laços com Geraldine Ferraro, que integrava a equipa responsável pelas finanças de Hillary, assessores da ex-primeira-dama recordaram comentários sexistas de certos aliados de Obama.
Em Fevereiro, o general Merrill McPeak, um militar da reserva que se comprometeu com a campanha de Obama, justificou a sua escolha afirmando que o seu candidato não tinha por hábito "ir à televisão e romper em lágrimas", em referência à ocasião em que Hillary tentou esconder o choro na véspera da sua vitória nas primárias de New Hampshire.
Alguns analistas, como a escritora "pós-feminista" Camille Paglia, criticaram o facto de Hillary se fazer de vítima. "Hillary perde jogando, mas os seus assessores descobriram que muitas mulheres pareciam receptivas", lamentou Paglia na revista US.
Já Ferraro afirma que Obama conseguiu muitas das suas vitórias eleitorais no sul do país graças ao voto negro, como no Mississippi, onde recebeu 91 por cento dos votos dos negros e apenas 30 por cento dos votos dos brancos.
Outros destacam que as origens mestiças de Obama são um elemento essencial do seu apelo, assim como a possibilidade de se tornar o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Porém, muitos, como o académico Ron Walter, ressaltam que Obama se esforçou até agora para "levar por diante uma campanha neutra do ponto de vista da raça" e foi isto que permitiu as suas vitórias em estados que não possuem grande população negra, como o Iowa.
Bruce Ranson, da Universidade Clemson na Carolina do Sul, afirma que, dando espaço para polémicas sobre o racismo, a campanha de Hillary comporta-se como se desejasse "colocar Obama na categoria de candidato negro, com a meta de restringir o poder de sedução que ele pode ter além do eleitorado negro".
Porém, na sexta-feira o próprio Obama distanciou-se do discurso de um pastor da sua igreja, que afirmou que os negros deveriam dizer "Deus condene os Estados Unidos" pelo tratamento dado aos afro-descendentes.
O líder da maioria democrata na Câmara de Representantes, Steny Hoyer, tentou acalmar o ambiente. "Temos dois candidatos que representam segmentos essenciais do campo democrata e quando se atacam um ao outro é sentido de modo mais pessoal", explicou ao Washington Post.

AFP


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 177
Ano 17, Abril 2008

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo