Os guionistas de cinema e de televisão americanos decretaram no principio de Novembro uma greve por tempo indeterminado ameaçando paralisar a indústria do entretenimento nos Estados Unidos. "As discussões vão continuar, mas a greve é efectiva", declarou à AFP Sherry Goldman, porta-voz do sindicato dos roteiristas, o Writers Guild of America (WGA). Ela fazia referência às negociações de última hora realizadas num local não divulgado, mas que terminaram sem nenhum avanço.
Os roteiristas cruzaram os braços a partir da meia-noite na costa leste. Os autores de Nova York foram os primeiros a entrar em greve devido às diferenças de fuso horário nos Estados Unidos, afirmou Sherry Goldman. A palavra de ordem da greve, a primeira em quase 20 anos, acontece depois de três meses de negociações infrutíferas. Cerca de 12.000 roteiristas filiados na WGA aderiram à greve.
Os grevistas exigem benefícios relacionados com direitos autorais quando, por exemplo, as suas obras forem acessadas em telemóveis ou ainda em Ipods. Eles querem também uma percentagem maior nos direitos autorais sobre os DVDs e vantagens sociais nos programas de reality shows. Estas reivindicações foram rejeitadas pela poderosa associação de produtores (Alliance of Motion Picture and Television Producers, AMPTP), que afirmou que os programas que circulam na internet não são rentáveis. "Toda a gente sabe quanto custa um DVD e um autor recebe de quatro a cinco por cento da venda de um DVD", denunciou o roteirista Bryce Zabel. "Nós queremos oito por cento. Eles dizem que isso é um absurdo!"
De acordo com os analistas, esta paralisação pode durar muitos meses e as perdas potenciais devem alcançar a barreira de um bilião de dólares. O título "Apocalypse Now" ocupava a primeira página do jornal referência do meio, Daily Variety, em relação a esta greve, sublinhando que ela pode trazer consequências a outros sectores da indústria. Os roteiristas receberam o apoio do sindicato dos actores Screen Actors Guild (SAG).
Os programas dos canais de televisão americana devem ser afectados muito em breve pela greve dos roteiristas. As primeiras produções a sofrer as consequências devem ser os talk-shows, cujos roteiros são escritos diariamente. "Boom! A nossa transmissão vai parar pura e simplesmente", declarou Amy Poehler, que participa da equipe de "Saturday Night Live". "Não existem scripts reservas", disse ela ao Daily Variety.
Entretanto, nem os telefilmes, nem as séries, nem os filmes hollywoodianos serão afectados de imediato. Os produtores, prevendo um eventual conflito, deixaram guardadas dezenas de roteiros. A última greve durou 22 semanas e caso esta situação se repita, a indústria do entretenimento será gravemente afectada por falta de conteúdo. Em 1988, a longa greve de roteiristas custou cerca de 500 milhões de dólares aos estúdios. Segundo o perfeito de Los Angeles, António Villaraigosa, uma greve hoje pode custar o dobro. A indústria do entretenimento gera aproximadamente 30 biliões de dólares por ano a Los Angeles.