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Natal, mito, ritual ou processo comercial?

Para os meus netos Tomas e Maira Iturra van Emden

Em 1260, na sua obra Provérbios, Tomás de Aquino escreve elementos do que viria a ser a sua obra O Catecismo, editado pelos Frades Dominicanos e mais tarde, em 1878, pelo Papa Leão XII, nascido a 20 de Fevereiro de 1878, foi eleito sucessor do Papa Pio IX. É frequente referirem-se ao Papa Leão XIII por suas duas importantes encíclicas: Rerum Novarum, a de 1891, sobre os direitos e deveres do capital e trabalho, em que introduziu a ideia da subsidiariedade no pensamento social católico e a Aeterni Patris, de 1879, sobre a Filosofia, onde destaca a importância do retorno à Filosofia de São Tomás de Aquino do Vaticano, a sua primeira preocupação é declarar a obra de Tomás de Aquino como a orientadora da Doutrina da Igreja Católica, declarando o seu Catecismo a base de qualquer outro que puder ser escrito depois.
Eis a razão porque em 1991 o Papa João Paulo II ou Karol Wojtila, ao escrever o seu Catecismo, cita mais de 66 vezes a Obra Aquiniana. Nem Jean Calvin em 1535 ou Lutero em 1529, fazem referência ao nascimento de Jesus. O Direito Canónico ao governar o mundo até ao Século XIV ou a queda do Império Bizantino, especula normalmente sobre esta ideia do nascimento de Jesus, narrada como está nos Evangelhos.
Entendida já a origem do rito, existente em vários livros considerados Sagrados, como o Talmud, El ? al - Corão, cada um a comemorar o nascimento de um Profeta ou ritual, acaba, para todos eles, por não ser Mito, por corresponder à sua verdade histórica. Que exista uma preponderância aparente dos Cristãos Romanos, não significa que um seja verdade e os outros mentira. Há factos históricos diferentes, ainda dentro dos cristãos, que justificam datas e padroeiros de outra espécie. Cada um tem uma forma diferente de comemorar o pretendido nascimento do espírito ou pessoa cuja ética orienta as suas vidas, como é o caso do texto de Malinowski de 1916, Baloma; the Spirits of the Dead in the Trobriand Islands, ou as divindades nascidas faz milhares de anos entre os Mapuche do Chile ou entre os Inca e Quechua do Peru e Equador. Entre todos eles, existe um ritual de sacrifício ou de veneração.
O problema, meus queridos netos, é que entre nós há a dúvida da Virgindade da mãe de Jesus ao ser concebida "por obra e graça do espírito santo", e não pelo seu marido, José o Carpinteiro. Apenas que esta história está feita para adultos e não para crianças. As crianças acreditam não apenas na divindade do seu Patriarca, Cristo, bem como esperam de Ele ? note-se que em Português o nome de Cristo, ou nas Igrejas Arménia, Ortodoxa Russa, Ortodoxa Grega, a referência é também escrita com maiúscula.
A festa tem passado a ser uma reunião familiar, com presentes combinados com rituais feitos à maneira de cada País. Normalmente em Portugal, há a denominada consoada e, a seguir, uma Missa de Meia-noite ou de 25 pela manhã. Vós, em Nederlands, ou Holanda como é também denominada, tendes duas festas: a Calvinista e Luterana de São Nicolau, bem como a Católica dos Romanos, em datas diferentes e rituais diferentes, dentro do mesmo mês. Porque em casa, não apenas a vossa, como em muitas, há os que comemoram a festa e há os que fazem da mesma, um ritual.
Tenho consciência, pequenos, de referir estas ideias em outro texto do Jornal, mas nunca com detalhes históricos para explicar como o comércio tem ganho e tem-se apoderado do Mito e do Ritual, para vender "bugigangas", como presentes de Natal. Especialmente hoje em dia, quando o comércio não consegue vender por causa da denominada Globalização Económica, que deveria ser o nome desta celebração.
E nada mais diz. A temática tem pano para mangas e não há espaço num suposto texto que tem de ter 600 palavras.
Felizes Festas a todos, do vosso avô distante e para todas as crianças que ainda acreditam no Mito.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 173
Ano 16, Dezembro 2007

Autoria:

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa

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