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Profissões que se aprendem e que dificilmente se ensinam...

Esta reflexão surge no seguimento da apresentada no jornal A PÁGINA, nº 168, de Junho 2007, em que o enfoque principal radicava nas questões do ensino e da aprendizagem do voluntariado.
Como refere Ricardo Vieira (2006), relativamente ao voluntariado e ao modo de ser assistente social, seja de uma forma profissional, seja de modo informal, provavelmente estaremos mais perante um processo de aprendizagem do que de ensino, como, de resto, parece acontecer com outras profissões que tocam o âmbito social, entre as quais a de professor como tem sido abundantemente estudado (Nóvoa, 1987; Vieira, 1999b). Mas outras profissões haverá em que esse processo se encontra igualmente presente.
Na minha pesquisa de doutoramento sobre as Trajectórias Pessoais, (re) construção identitária, representações e práticas profissionais dos Assistente Sociais, estudo a maneira de ser dos profissionais do Serviço Social, seus modelos de acção e convicções de intervenção social, com base no estudo da designada escola paralela, ou escola de vida, para além da educação formal que confere o diploma.
Nesta pesquisa o conceito de habitus (Bourdieu, 1980) assume particular importância. Com este conceito, Pierre Bourdieu procura articular as posições objectivas das estruturas sociais, a subjectividade da criatividade individual e as situações concretas da acção social.
Também para Christine Josso (2002), o profissional que age não o faz só considerando os ensinamentos formais da heteroformação e da ecoformação; fá-lo também com a autoformação e reflexividade sobre a experiência de vida.
É nesse sentido que consideramos que o Assistente Social é também uma pessoa (Abraham, 1984) e é essa pessoa tornada profissional que interage com os seus públicos-alvo de intervenção. Claro que o profissional e a pessoa são vistos aqui como processos dinâmicos, compósitos, mestiços e inacabados: (Nóvoa, 1992; Vieira 1999a , 1999b, 2006; Maalouf, 2002; Laplantine e Nouss, 2002; Hall, 1997).
A escola "cria" e licencia profissionais especializados nas mais diferentes áreas, inclusive para a área social, mas continua a haver espaços sociais para os quais a escola não licencia nem prepara.
Nesta área, a educação não formal, a aprendizagem ao longo da vida e o voluntariado são vitais para a formação de futuros profissionais. Os Assistentes Sociais são um exemplo concreto deste processo, como tenciono vir a reflectir aqui mais vezes.

Referências Bibliográficas

  • ABRAHAM, A. (1984). L?Enseignant est une Personne, Paris: Les Édit. ESF.
  • BOURDIEU, Pierre (1980). Le Sens Pratique, Paris: Minuit.
  • NÓVOA, A. (1987). Les Temps des Professeurs, 2 vols, Lisboa: INIC.
  • JOSSO, Marie Christine (2002). "As dimensões formadoras da escrita da narrativa da história de vida: da estranheza do outro à estranheza de si" in JOSSO, Marie Christine (2002). Experiências de vida e formação, Lisboa: Educa, (pp. 130-146).
  • HALL, Stuart (1997). [1992]. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade, Brasil: DP&A Editora.
  • LAPLANTINE, F. e NOUSS, A. (2002). A Mestiçagem. Lisboa: Instituto Piaget.
  • MAALOUF, Amin (2000). As Identidades Assassinas, Difel Difusão Editoria, S.A.
  • VIEIRA, Ricardo (2006). "Da Construção da Identidade Profissional do Professor", in MUNHOZ, A. FELDENS, D.
  • SCHCK, R. (2006). Aproximações sobre o Sujeito Moderno: Traçando Algumas Linhas, Lajeado, RS: UNIVATES.
  • VIEIRA, R. (1999a). Ser Igual, Ser Diferente: Encruzilhadas da Identidade. Porto: Profedições.
  • VIEIRA, R. (1999b). Histórias de Vida e Identidades, Professores e Interculturalidade. Porto: Biblioteca das Ciências do Homem, Edições Afrontamento.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 171
Ano 16, Outubro 2007

Autoria:

Cristóvão Margarido
Assistente Social. Docente da Escola Superior de Educação de Leiria, ESE-IPLeiria
Cristóvão Margarido
Assistente Social. Docente da Escola Superior de Educação de Leiria, ESE-IPLeiria

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