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Subsidiado para torturar
Esgotou-se o prazo de assinatura da Declaração Escrita nº 0002/2007, criada com o louvável intuito de terminar com a queima de fundos nesse embrutecedor espectáculo de escassa audiência que é assistir à agonia de um negro de outra espécie. A Tourada é um foco infeccioso de mentes sádicas, uma atracção turística de sanguinários que exacerba o que de pior há no ser Humano. A razão porque isto não é evidente para todos chama-se Tradição. As crianças são levadas para as arenas onde se vão tornando complacentes com a violência e indiferentes à tortura de animais para divertimento, como um dia o foram os seus pais.
De tão ocos que são, até hoje, e por mais exaustiva que seja a pesquisa, nunca encontrei um único argumento dos aficionados da "Festa Rija" que se considere válido à luz deste século. Se a Cultura é o espelho de uma dada sociedade é então repugnante que na nossa ainda haja quem se reveja numa prática cruel e malvada que perpetua o primitivo gáudio colectivo pela escravatura, escondendo-o em multi-coloridas peças de lantejoulas.
Mas antes de se tratar de defesa pelo bem-estar dos animais, trata-se de uma questão de prioridades e coerência orçamental. Os criadores de touros de lide recebem subsídios da União Europeia através da Política Agrícola Comum. Com esta Declaração todos os eurodeputados tinham em mãos o poder-cometa de não permitir que se continuasse a sustentar toda a corja dos parasitas da Tauromaquia que tentaram por todos os meios e lobbies agarrar este subsidio pelos cornos. Lamentavelmente, a meio da votação positiva que estava a surgir, decidiu-se no seio dos eurodeputados não se assinar mais petições pelo que esta, embora tão importante, foi sendo abandonada ainda prematura. Num momento de contenção, em que se reduzem verbas até em actividades de primeira necessidade, é absurdo que se financie um espectáculo bárbaro que ofende a muitos mais do que a decrescente minoria a que agrada.

  
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Edição:

N.º 170
Ano 16, Agosto/Setembro 2007

Autoria:

João Dalion

João Dalion

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