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Ruben, o terrorista da escola
O relógio indicava dezasseis horas quando os meninos começaram a entrar na casa da Mariana, para festejar mais um aniversário. Ruben era um dos convidados. O rapaz estava radiante com o convite, pois era a primeira vez que uma colega de escola se tinha lembrado dele. Ruben não era um rapaz muito afável para com as meninas. Era mesmo considerado um dos chatos e insurrectos da escola. A sua professora, senhora já na casa dos cinquenta anos de idade, queixava-se sistematicamente do terrorista. Para ele, ler e escrever era coisa aborrecida, por isso fugia às vezes da sala sem que a velha professora reparasse. O que ele realmente gostava era jogar à bola. Bem queria formar uma equipa, desenhar as camisolas, fazer umas taças em barro, realizar um campeonato, mas a professora nunca foi na cantiga. Não era de admirar, pois, que ele agredisse os colegas, importunasse as brincadeiras das meninas, maltratasse as auxiliares de acção educativa...
Mesmo assim, Mariana aceitou o pedido do pai e convidou o reguila para a festa. O Ruben era irmão do Miguel, o pedreiro que estava a fazer umas pequenas obras lá em casa.
- Pai, por que motivo queres convidar o Ruben, quando passas a vida a dizer que o irmão é um irresponsável e que não queres saber mais deste tipo de gente? ? perguntou a Mariana bastante intrigada.
- Tens razão, o Miguel não demonstra grande responsabilidade. Falta ao serviço sem informar... Todos nós temos defeitos, não é? Sabes, o Miguel nem o quarto ano de escolaridade completou. Abandonou a escola muito cedo porque não encontrou nela nada que o motivasse. Eu não quero que aconteça o mesmo com o Ruben. Não o deveremos excluir ? respondeu o pai.
- Pai, o Ruben nem sabe ler! O que é que ele está a fazer na escola? Chamam-lhe burro e deficiente?
- O Ruben, por enquanto, não sabe ler e escrever. Contudo, ele é bom noutras coisas. Lembras-te dos porta-chaves de madeira que compraste na escola? Foi ele que os fez!
- Nem sabia quem os tinha feito! Ele tem bastante jeito para trabalhar na madeira.
- Um dia, Sebastião da Gama disse que ser bom professor consistia em adivinhar a maneira de levar todos os alunos a estarem interessados; a não se lembrarem que lá fora é melhor. Permanecendo muitos anos na escola ele aprenderá a ser mais responsável e autónomo. Vai ser certamente diferente do Miguel!
- A minha professora diz à colega do lado que não percebe como é que agora passa tudo de ano.
- A tua professora é do tempo em que os alunos se adaptavam à escola, agora é a escola que se vai ajustar. O Ruben terá a oportunidade de aprender à sua medida!
- Espero que sim! Já agora, também poderiam colocar quadros interactivos e mais professores na minha escola porque a Catarina continua em lista de espera para o apoio educativo. Ela vai ficar outra vez no quarto ano, e ela esforça-se tanto. Ela não tem culpa disso, pois não?
- Não? mas sonha, querida. Nunca deixes de o fazer, porque é o sonho que comanda a vida!

  
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Edição:

N.º 170
Ano 16, Agosto/Setembro 2007

Autoria:

Miguel Gameiro Silva
Ponta Delgada. Açores
Miguel Gameiro Silva
Ponta Delgada. Açores

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