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Os ritos funerários transformam-se na sociedade moderna
Os ritos funerários nasceram com a história do homem. Gabriel Garcia Marques não se engana quando descreve Macondo como um povo sem cemitério, e por isso sem história. Mas na actualidade a nossa sociedade abandona rituais seculares.
O culto devido aos mortos é uma constante em todas as civilizações que forjaram a nossa cultura. No Egipto as sepulturas e as múmias são a principal fonte de informação para compreendermos essa cultura.
Na Grécia e em Roma, enterrar os mortos era um dever acima das leis humanas.
As culturas pré-colombianas deixaram na América Latina uma herança da celebração dos mortos, que era também uma celebração da vida.
Cada cultura, cada religião, tem os seus rituais relacionados com a morte. São semelhantes, em várias culturas, as práticas do velório e do enterro praticadas pelos povos de tradição cristã. Estas práticas mantiveram-se ao longo de muitos e muitos séculos.
Mas os tempos actuais parecem tempos de ruptura. A esta ruptura não estão a ficar isentas as práticas funerárias. Na sociedade ocidental, há já bastante tempo que se deixaram de lado os sinais exteriores de luto, quer no vestuário quer na organização da vida familiar. Tais mudanças também se notam em sociedades orientais consideradas mais conservadoras.
No mundo católico, no qual a cremação era proibida até ao Concílio Vaticano II, adopta cada vez mais esta prática. As razões são sobretudo sócio-económicas, como o êxodo rural, que separa as pessoas das famílias e das tradições familiares, e também o preço das sepulturas que torna a cremação um meio mais económico.
Nos países europeus de tradição católica, a França é o que mais adoptou a prática da incineração (25% dos funerais), seguido da Espanha (12%) e da Itália (6%).
As mesmas razões favorecem a mesma mudança na China. Aqui, a falta de espaço contribui para o abandono dos grandes jazigos familiares.
Na Índia, onde a tradição é a cremação, razões económicas, suportadas por argumentos de ordem climática, têm promovido uma nova forma de fogueira capaz de fazer o serviço com muito menos lenha... e mais barato.
Nos países mais desenvolvidos a nova geração opta, cada vez mais, por práticas personalizadas e festivas.
Mas a modernidade também está a transformar as exéquias em África, onde se continua a enterrar os mortos com os objectos que se pensa precisarem na outra vida, mas agora os caixões tomam formas tão diversas como a de um avião ou uma garrafa de cerveja em função do que se pensa terem sido os gostos do defunto.
Em época de negócios, mais do que quanto baste, num tempo de turismo mesmo espacial, os «funerais espaciais», quer dizer, o envio das cinzas do defunto para lá da atmosfera, ganham cada vez mais adeptos nos Estados Unidos. Neste país, várias empresas funerárias propõem este tipo de funeral, o qual não está, evidentemente, ao alcance das famílias mais modestas. Mas nisso não há rupturas, estamos hoje como ontem, desiguais até na morte.

  
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Edição:

N.º 169
Ano 16, Julho 2007

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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