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Democracia boa é a que toca piano e fala francês
Nicolas Sarkozy, o novo presidente francês, começa a marcar não apenas a agenda da União Europeia como a própria agenda mundial. Ele e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, já impuseram uma reunião internacional sobre o drama que se vive no Darfour com a presença, entre outros, do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon e de representantes dos Estados Unidos, da Rússia e da China, potencias chave para encontrar uma solução para um conflito que, nos últimos quatro anos, já causou 200 mil mortos e 2,5 milhões de refugiados. Estranhamente, a diplomacia francesa não consegui qualquer presença africana nesta reunião de Paris.
Também na recente Cimeira Europeia , realizada em Bruxelas, a primeira em que Nicolas Sarkozy participou, a França conseguiu "impor" a ideia do tratado simplificado, como única solução para o impasse criado com o "chumbo" dos franceses e dos holandeses que em referendo disseram não a uma constituição europeia. Terá sido Paris quem conseguiu demover a intransigência polaca nesta material. Isto apesar da França continuar a insistir na tese da inoportunidade de um eventual alargamento do espaço comunitário à Turquia, posição que também parece estar em consonância com o que a opinião pública francesa pensa de tal alargamento.
É neste quadro de correlação de forças que Portugal assume a presidência do Conselho Europeu durante a segunda metade de 2007, mandatado para tentar criar condições que favoreçam a aceitação pelos 27 Estados da União Europeia de um tratado simplificado que substitua a "chumbada" Constituição Europeia, de preferência sem que tal acordo careça da ratificação, por referendo, das populações dos Estados ?membros ? risco que muitos dispensam na mesma lógica dos que dispensariam eleições nos territórios palestinianos se soubessem que o Hamas as venceria.
Recorde-se que na sequência da vitória eleitoral do Hamas, em Janeiro último, foi decretado por Israel, com o aval das potencias ocidentais, um bloqueio financeiro ao governo palestiniano, situação que muito contribuiu para a degradação política em Gaza e para a dramática situação que se vive no território, em alguns aspectos com claros contornos de uma guerra civil. A vontade das populações expressa pelo voto nem sempre prevalece, mesmo em Democracia.
Tudo teria sido mais fácil se os franceses e os holandeses tivessem dito sim à Constituição Europeia ou se o Hamas tivesse perdido as eleições nos territórios palestinianos. Como dizia o senhor Ford, a propósito dos primeiros automóveis comercializados, o consumidor pode escolher a cor do carro que quiser, desde que seja em preto.

  
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Edição:

N.º 169
Ano 16, Julho 2007

Autoria:

Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias
Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias

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