Os Apoios e Complementos Educativos constituem um campo controverso que as sucessivas políticas do Ministério da Educação têm abordado de forma pouco objectiva e coerente. Tal situação tem vindo a agravar-se com o cruzamento que essas actividades têm vindo a sofrer, nomeadamente entre actividades de Apoio destinadas a alunos com dificuldades, pontuais ou permanentes, e actividades especializadas destinadas a alunos com Necessidades Educativas Especiais (alunos NEE abrangidos pelo Decreto-Lei 319/91). Da análise dos dados enunciados no estudo que realizámos, parece concluir-se que as expectativas/percepções que os professores têm face à eficácia dos Apoios e Complementos Educativos estão relacionadas com o facto de leccionarem, ou não, essas Actividades de Apoio. O sentido dessa correlação é que contrariou o da hipótese formulada, constituindo, para nós, uma surpresa, pois o conhecimento de algumas características corporativas características da classe docente, levou-nos a considerar que os professores que leccionam/orientam modalidades de Apoio apresentassem expectativas mais elevadas sobre a eficácia desses apoios do que os professores que nunca leccionaram qualquer modalidade de apoio fora da aula curricular. Ora, o sentido da associação é deveras surpreendente. Não tanto pela realidade que traduz ? os professores que leccionam/orientam modalidades de Apoio e Complemento Educativo, têm expectativas mais baixas na recuperação dos alunos que frequentam essas actividades do que os professores que não leccionam Apoios ? mas, sobretudo, pelo facto daqueles professores, quando questionados, o assumirem claramente. Os resultados parecem confirmar outra das hipóteses formuladas que aponta para uma diminuição das expectativas face à eficácia dos apoios, à medida que o tempo de serviço dos professores aumenta. Essa hipótese é reforçada pelo sentido da correlação cargos pedagógicos exercidos (representativo da experiência dos professores) versus Expectativas. Se essa conclusão foi surpreendente, sobretudo pelas razões expostas, já o facto do aumento do tempo de serviço nos professores e dos cargos pedagógicos por eles desempenhados estarem associados a um decréscimo das expectativas na eficácia dos apoios, é algo que não surpreende, tende em conta que, com o passar dos anos (e de sucessivas reformas frustrantes e inconclusivas), sentimentos como o desencanto e o cepticismo aumentam entre os professores. Ao longo do tempo, a generalização das medidas de Apoio e Complemento Educativo nas nossas Escolas, associada à ausência de percursos alternativos, fez suceder à massificação do ensino uma nova realidade não menos problemática: a massificação dos próprios Apoios e Complementos Educativos, levando alguns professores a acreditarem que seria preferível leccionar esses apoios nas aulas curriculares normais, retirando dessas aulas o pequeno grupo de alunos que não os frequenta e proporcionando-lhes, em aulas específicas, uma espécie de apoio ao contrário, traduzido na exploração de competências de desenvolvimento. Tendo por base a investigação teórica e o próprio conhecimento da realidade, o trabalho empírico revelou que os professores manifestam uma crise de expectativas na eficácia da recuperação dos alunos sujeitos a modalidades de Apoio e Complemento Educativo. O facto dessas expectativas diminuírem nos professores que leccionam apoios educativos é um dado que, só por si, merece uma reflexão cuidada e um estudo mais aprofundado, de forma a poder confirmar ou infirmar a presente conclusão.
Nota: Trabalho realizado no âmbito da dissertação de Mestrado apresentada na Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, envolvendo cerca de 300 professores de 10 escolas da Região Centro.
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