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Natureza e sustentabilidade II
O termo "desenvolvimento sustentável" foi oficialmente fixado no relatório "Our Common Future" pela Comissão Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida por Comissão Brundtland, sob os auspícios das Nações Unidas, em 1987. Este é um documento que ainda hoje é lido com muito proveito. Podemos supor que esse relatório oficial foi em parte também uma resposta ao grave desafio anteriormente lançado pelo igualmente conhecido "Limits to Growth", da autoria de Donella Meadows, Dennis Meadows e colegas, publicado em 1972 com o patrocínio do "Clube de Roma"; esse estudo agora histórico foi actualizado em 2004 sob o título "Limits to Growth: The 30-Year Update".
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, em 1992, e a Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, Joanesburgo, em 2002, foram grandes iniciativas inter-governamentais que formalmente estariam a dar sequência ao enunciado de problemas colocado em "Our Common Future". Mas os resultados alcançados são modestos, face à dimensão dos problemas materiais e humanos que se colocam e às contradições que constrangem a sua resolução; em particular, a busca de soluções e acção consensual tem sido constrangido pelo protagonismo cedido às grandes corporações, que têm encontrado nesses eventos fora para promoverem a sua imagem ("corporate social responsability") e para obstarem a adopção de decisões radicais.
Tanto em "Limits to Growth" como em "Our Common Future" o ambiente é inseparável da relação do homem com a natureza, articulada com o desenvolvimento económico e social, a equidade e justiça social, o bem-estar e aperfeiçoamento da pessoa humana.
Na prática política, pelo contrário, o ambiente tornou-se num tema artificiosamente autónomo, uma visão frequentemente redutora, ou porque não considera na sua integralidade o ciclo de vida dos materiais desde a produção primária e seu fluxo através da esfera económica até ao regresso à natureza, ou porque ignora os fluxos indirectos ou invisíveis associados aos bens transaccionados, ou porque ignora o declínio das fontes de matérias-primas minerais, ou a sobre-exploração de recursos renováveis para além da respectiva taxa de reposição, etc.
O ambiente, na sua abordagem simplista, aparece como campo de confronto entre uns, que pretendem o proteccionismo de habitats ou de paisagens alienando a presença do homem da natureza, e outros, que pretendem adquirir a propriedade de bens naturais para fazerem negócio deles. Entretanto, o ambiente tornou-se de facto num grande negócio, uma "indústria ecológica"; enquanto uns promovem o consumismo outros promovem a "eliminação" dos resíduos e vestígios de consumos desordenados, uns e outros fazendo negócio em proveito próprio.
No mundo presente não temos "desenvolvimento sustentável". A acumulação de população em mega-cidades e o despovoamento do meio rural, o rápido crescimento da área edificada relativamente à população residente, a desertificação biofísica e humana frequentemente associadas entre si, o declínio de fontes de matérias-primas minerais (hidrocarbonetos e metais básicos), a exaustão de solos férteis e a sobre-exploração de aquíferos, a exaustão de pesqueiros, etc. são vários sintomas de um futuro preocupante que já é presente na Europa.
O anunciado projecto de associação entre capital norte-americano e brasileiro para a ampliação da bem sucedida experiência industrial brasileira de produção de biocombustíveis a partir da cana do açúcar, visando agora tornar o Brasil num grande exportador de biocombustíveis, significa o conflito entre a produção de madeira, produtos alimentares e combustíveis líquidos, competindo por solo fértil e condições climatológicas favoráveis cada vez mais escassas na Terra, e que agravará a ameaça a que a bacia do Amazonas está sujeita.

  
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Edição:

N.º 166
Ano 16, Abril 2007

Autoria:

Rui Namorado Rosa
Univ. de Évora
Rui Namorado Rosa
Univ. de Évora

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