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Das escolas aos sindicatos com M de mudança

Os anos mais recentes têm sido marcados pela ideia de que tudo está por avaliar. O que não pode ser tomado à letra, por mais que haja quem possa estar interessado em fazer valer e divulgar tal ideia.
A avaliação é um processo constante em que todos estamos metidos ininterruptamente, de forma natural; apreciar o que se faz no trabalho de cada um, ou de cada uns, é vital para que tenhamos em conta o que faremos no dia seguinte.
Lá que nos digam que há necessidade de renovarmos a forma como o fazemos, nomeadamente nas escolas, quando se fala nos processos cognitivos dos alunos, ou nas oportunidades e trajectos formativos dos docentes, ainda estamos de acordo; e, lembrando Figari & Achouche (2001) (1), é um facto que a problemática já não poderá voltar a estar centrada na questão da (não?) "partilha do poder", mas sim na "auto-análise dos processos cognitivos implicados em qualquer forma de aprendizagem", centrada em conteúdos, em actividades, em objectivos gerais ou específicos, em conceitos, em temas integradores ou em competências; há problemas a resolver e actos de comunicação a produzir, que carecem ser antecipadamente bem conhecidos por uma comunidade educativa para que, feitos os balanços necessários, cada escola ou agrupamento possa definir vias concretas em relação ao contexto em que se insere. Trata-se, afinal de contas, de caminhos para a Autonomia.
De acordo com Gardner (1999) (2), entrámos no novo milénio com uma dicotomia que divide os académicos em dois grandes grupos: o dos "analistas de símbolos" e o dos "especialistas em mudança". O primeiro constrói projectos a partir de números e palavras dispostos em suporte informático; o segundo adquire nova informação, resolve problemas e ajusta as situações a novas circunstâncias. (Já Dewey considerava que a inteligência era sobretudo a maneira como se resolve uma situação problemática?)
Ainda segundo o mesmo autor, quem dirigiu as sociedades foi sempre visto como inteligente. Mas também este conceito se foi alterando, surgindo, em 1983, o de Inteligências Múltiplas, explorado por Gardner e pela(s) sua(s) equipa(s) na universidade de Harvard. Igualmente os conceitos de cérebro humano e de mente se alteraram. E, concluindo-se que os seres humanos possuem todos um conjunto de capacidades e potenciais (inteligências múltiplas) que não devem ser "pesadas na balança" como algo de definitivo, mas sim ser estimuladas para diferentes desenvolvimentos em usos produtivos, individuais ou em grupo, nas várias instituições da sociedade, nomeadamente na escola, é mais do que natural que cada um deseje experimentar o que é viver em conjunto, num mundo em que ninguém quer ser igual ao outro, mas pretende usar as suas capacidades de escolha em termos de inteligência, de desejo e de valores, reconhecendo que tudo isso deve ser associado. É assim natural que se defenda aqui - tendo como base a ideia de que toda a informação adquirida conduz sempre a um trabalho de transformação de dados - que uma verdadeira avaliação de qualquer actividade implicará sempre a análise do que é a passagem do conceptual para o operatório.
Nestas mudanças de vida, a escola lá está. À espera de inovações, como ? de acordo com o que várias vezes neste espaço foi abordado ? o abandono das barreiras entre a arte e o intelecto e a emoção e o pensamento, (Eisner, 1972) (3). Também a escola espera ainda um "mundo novo".
É ainda Eisner (2005), (4) que nos lembra que, nas escolas, a imaginação
"já não é um ornamento, assim como a arte. Juntas, podem libertar-nos dos nossos hábitos endurecidos. Devem ajudar-nos a restaurar propósitos decentes para os nossos esforços e ajudar-nos a criar o tipo de escolas que as nossas crianças merecem e a nossa cultura precisa".
Nada mais se pretendeu dizer, ao longo deste artigo - desta vez até mais explícita e propositadamente sustentado teoricamente do que noutras ocasiões ? senão que a mudança, com M maiúsculo, é absolutamente necessária e, como afirma Bolívar (1999) (5), não pode ser feita com reformas "promovidas externamente" que resultaram sempre em " sistemáticas desilusões".
E se queremos a Mudança na sociedade, no Ministério da Educação, e autonomia nas Escolas, é essencial que ela também chegue aos Sindicatos, onde se deverão abandonar os hábitos endurecidos de que Eisner fala e partir para posturas que nas clivagens não sejam divisões, mas factores de enriquecimento e de engrandecimento da luta sindical.
Os Sindicatos - para conseguirem manter a sua inserção no quotidiano das escolas e dos docentes que tão bem têm representado, pelo menos em toda a nossa história de democracia e não só - precisam igualmente de, passo a passo, delinear caminhos: capazes de assegurarem a democraticidade interna à sua Federação (FENPROF); idóneos para manterem um diálogo respeitador e claro com todos os intervenientes nos vários trâmites dos processos relacionados com a Educação; aptos para combaterem de forma bem reflectida, habilitada e acreditada em qualquer sector social do país; competentes para desenvolverem iniciativas que não tenham origem em diligências partidárias, mas única e absolutamente enraizados na realidade sindical nacional - do Norte, do Centro, da grande Lisboa, do Sul e das Ilhas.
O grande M da Mudança só poderia, assim, ser visto em Manuela e em Mendonça. Só uma candidata que lutou inequivocamente pela unidade e se quis submeter aos valores democráticos da maioria poderia merecer o apoio de todos os que militam na época presente e pugnam pela era do futuro. É com Manuela Mendonça que faremos a Mudança da forma de estar na vida sindical. Com ela deixaremos mensagens e actos de coragem aos vindouros. Com ela nos identificamos desde o primeiro momento.
E tudo isto com o máximo respeito pela candidatura do camarada Nogueira, evidentemente.

Notas:
1) FIGARI, G. & ACHOUCHE, M. (2001). L'activité évalouative réinterrogée. Regards scolaires et socioprofessionells. Bruxelles : Éditions De Boeck Université
2) GARDNER, H. (1999) ? Intelligence Reframed. Multiple intelligences for the 21st Century. New York. Basic Books.
3)EISNER, E W. (1972). Educating artistic vision. New York: Macmillan publisnhing Co.
4) EISNER, E W. (2005) Reimagining Schools. The selected works of Elliot W. Eisner. New York. Routledge
5) BOLIVAR, A. (1999) Como melhorar as Escolas. Estratégias e dinâmicas de melhoria das práticas educativas. Porto. Asa Editores, SA.


  
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Edição:

N.º 166
Ano 16, Abril 2007

Autoria:

Rafael Tormenta
Professor do Ensino Secundário
Rafael Tormenta
Professor do Ensino Secundário

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