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O futuro da Escola? A Escola do futuro?

Uma nova realidade do panorama educativo: os sistemas domésticos de educação

Dois milhões de crianças nos Estados Unidos não frequentam escolas. São educadas pelos próprios pais, em suas casas. Há meia dúzia de anos, este número pouco ultrapassava o meio milhão. Se quisermos ter uma ideia global do que se passa nesse país, é possível dizer que, actualmente, uma em cada 25 crianças está fora da escola, por decisão dos próprios pais, que assumem a responsabilidade de as educar e instruir nas suas próprias casas[1] Enquanto alguns Estados exigem que essas crianças realizem um teste oficial, outros exigem apenas que os pais passem essa informação ao Governo. Há ainda o caso do estado do Texas, onde nada é exigido, nem mesmo uma comunicação dos pais à administração educativa. Só nos Estados Unidos, o mercado de material educacional dirigido especialmente aos pais que ensinam os seus filhos em casa, soma, hoje, uma verba que ronda os 850 milhões de dólares por ano. A esmagadora maioria das universidades americanas têm hoje programas específicos para lidar com estudantes oriundos de sistemas domésticos de educação.
Para resolver o problema do isolamento das crianças que aprendem nas suas próprias casas, tem surgido um conjunto de novas instituições de apoio e de sociabilização. Os pais têm à disposição laboratórios virtuais e físicos, onde os filhos podem participar em experiências científicas, por exemplo. Nada é esquecido: para colmatar os problemas do isolamento e da ausência da componente social, existem actividades desportivas e diversos clubes, que são exclusivamente constituídos por crianças e jovens que estudam em casa.
Esse movimento de educação dos filhos, em casa, é ainda mais impressionante, quando analisamos dois factos:
1 - O comprometimento dos pais com a educação individualizada de seus filhos, num país onde o sistema educacional público é gratuito e, em geral, de boa qualidade;
2 ? A educação dos seus filhos, em casa, exige que um dos pais (geralmente a mãe) tenha que abrir mão dos rendimentos do seu trabalho.
Um dos mais fortes argumentos a favor da educação doméstica é que ela é a essência da educação individualizada e que a criança pode aprender de acordo com seu próprio ritmo de aprendizagem, em vez de ter que aprender ao ritmo de uma "maioria" da turma. Outro argumento ? dos mais fortes ? refere que na educação doméstica os pais podem transmitir aos seus filhos os valores que realmente desejam que tenham, evitando que eles fiquem à mercê dos valores inculcados por outros.
Os próprios dados oficiais apontam resultados a favor dos defensores da educação em casa: a Universidade de Harvard ? uma das instituições, onde o acesso é mais selectivo ? tem um número significativo de alunos brilhantes, provenientes da educação doméstica.
Será a educação doméstica uma tendência mundial? Segundo alguns estudos[2], a manter-se o ritmo do crescimento, em 2045 haverá mais crianças a estudar em casa do que nas escolas públicas. Como deve reagir a escola que todos conhecemos e "vivemos"?
São cada vez mais os países onde o número de crianças educadas em casa vem aumentando exponencialmente. E em Portugal? O que nos reserva o futuro?
A aposta das nossas editoras em "escolas virtuais", explicadores on-line e outros materiais do género, não deixa dúvidas sobre a abertura de um "novo mercado" e a antevisão de novos caminhos.
Não cabe, aqui e agora, argumentar a favor ou contra esta modalidade de ensino. É a realidade, num mundo de grandes transformações e "apenas" mais uma mudança anunciada, das muitas, com que diariamente nos vamos confrontando.
O melhor é estarmos todos preparados.

[1] Cf. dados recolhidos em http://homeschooling.gomilpitas.com/weblinks/numbers.htm


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 165
Ano 16, Março 2007

Autoria:

José Carlos Lopes
Mestre em Psicologia da Educação. Escola Secundária de Seia
José Carlos Lopes
Mestre em Psicologia da Educação. Escola Secundária de Seia

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