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Por onde e como caminhamos? (só) olhamos e (não) vemos?
Um olhar, focado sobre um projecto gerador de múltiplos projectos e implementado e desenvolvido numa escola secundária em parceria com uma instituição de saúde, levou-me a reflectir sobre algumas (quanto baste?) práticas pedagógicas e metodologias de ensino/aprendizagem.
Defende-se, hoje, que as funções da escola básica não podem traduzir-se na mera adição de disciplinas, devendo promover-se a formação integral dos alunos. Para isso, a escola necessita de se afirmar como um espaço privilegiado de educação para a cidadania, integrando e articulando, na sua oferta curricular, experiências de aprendizagem diversificadas, com efectivo envolvimento dos alunos, pelo que urge ver e apreender os sentidos que os diferentes actores do processo educativo constroem neste caminho de ensinar e aprender.
A dinamização dum projecto educativo, "Tabaco sem Futuro", no âmbito da educação para a saúde e promoção de hábitos de vida saudáveis, lançou aos alunos um desafio e confrontou-os com uma determinada realidade. Em trabalho de grupo, os alunos das turmas envolvidas tiveram de formular e confrontar-se com problemas; prepararam e planificaram as actividades dos (sub)projectos que propuseram; seleccionaram estratégias de actuação e resolução das situações; pesquisaram informação e procederam ao seu tratamento e prepararam e realizaram a apresentação dos seus trabalhos/projectos. No final, avaliaram o trabalho desenvolvido (processo e produto) e apresentaram críticas e sugestões para eventuais trabalhos futuros. Ao longo do percurso, talvez os alunos não tivessem reflectido objectivamente sobre o facto de recorrerem à articulação de saberes específicos das diferentes disciplinas, mas fizeram-no. A mobilização desses conhecimentos vem reforçar a necessidade de se efectivar a transversalidade temática, como a educação para cidadania ou a educação para a saúde, através das áreas curriculares disciplinares e não disciplinares, como um "projecto" comum e colectivo.
Pelas características que possui, o trabalho de projecto, com as actividades que dele decorrem, cria as condições para o desenvolvimento de competências pessoais, interpessoais e sociais. Parece proporcionar uma forma mais rica de aprendizagem porque acontece num contexto social em que a interdependência e a cooperação são cruciais para a realização do programado. Exige capacidade de gerir conflitos e saber lidar com os outros bem como responsabilidade, factores que são realçados num dos pilares da Educação para o Século XXI, aprender a viver juntos, não esquecendo que pela prática se experienciam os restantes: aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a ser.
Os alunos confessam que nunca mais esquecerão esta experiência que lhes permitiu vivenciar e apreender uma determinada realidade social, na área da saúde. O desenvolvimento de projectos com recurso a parcerias com outras instituições, que podem ajudar a alargar as experiências formativas dos alunos e focalizá-las mais para a realidade, não são rotina e apenas surgem esporadicamente nas escolas, ainda que os discursos e textos oficiais incitem, cada vez mais, à abertura da escola ao meio. A verdade é que algumas vezes o discurso de alguns intervenientes educativos não se vê reflectido nas suas práticas. Salvaguarda-se, no entanto, que a teoria é muitas vezes apelativa, no sentido de ir ao encontro do que realmente se pretende e acredita que seja o melhor, mas a operacionalização dessa teoria afigura-se difícil, até porque as experiências vividas pelos docentes, enquanto alunos, desde o ensino básico até à formação profissional, careceram de práticas pedagógicas activas e cooperativas que os colocassem no centro das suas próprias aprendizagens. Mas, as exigências quotidianas das escolas, bem como a procura de sentido para o que se ensina/aprende, exortam os professores para estas práticas. Assim, parece que só com atitudes de receptividade à mudança e inovação, com segurança ou autoconfiança suficientes para levar a cabo a experimentação e exposição educativas, associadas a uma postura de reflexibilidade permanente sobre o que se faz, se podem ir transformando as nossas práticas, com vista à transformação de todos nós. Professores e alunos são ambos aprendentes. E para ambos se aplica a antiquíssima mas intemporal máxima: O que ouço esqueço / O que vejo lembro / O que faço aprendo.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 165
Ano 16, Março 2007

Autoria:

Maria Augusta Torcato
Professora do Ensino Secundário. Mestre em Ciências da Educação
Maria Augusta Torcato
Professora do Ensino Secundário. Mestre em Ciências da Educação

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