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Prédios enormes?

Citando Mário Caetano, Hugo Carrão e Marco Rainho em "Alterações da Ocupação do Solo em Portugal Continental: 1985-2000", Helena Roseta declarou recentemente (1) que nos últimos 15 anos Portugal perdeu 70 mil hectares de território (à custa de floresta, solo agrícola e vegetação natural.) A maior parte (55 mil hectares de território "artificializado"), destinou-se a "tecido urbano descontínuo", "áreas em construção", "indústria, comércio e equipamentos gerais". Os espaços verdes nas cidades, entretanto, não crescem. Diz Helena Roseta que não dão lucro. "Um hectare de floresta ou solo natural pode valer mil vezes mais do dia para a noite, se for considerado "solo urbanizável". (2)
Estas questões devem fazer-nos pensar numa outra, muito curiosa. Por que razão se estendem as cidades portuguesas, mesmos as que têm menos população, numa área cada vez maior (a que não corresponde aumento populacional), não se verificando construção em altura? Em Portugal, em geral os edifícios têm no máximo oito andares, para "preservar" a paisagem? De quê? Quando se pensa que a "Torre das Antas" no Porto, é um pequeno edifício (quando se lhe pretende atribuir a categoria de "torre"), pensemos igualmente noutra curiosa questão: é importante que os prédios sejam pequeninos, ou que sejam bem construídos? Parece que há por aí muito prédio com 2, 3, 4 pisos que mete água "como na rua". É uma prioridade evitar o aparecimento de prédios mais altos, ou provocar uma significativa melhoria na qualidade da construção? Quantos portugueses vivem em habitações sem condições, mas "boas", porque "baixinhas"?
É ainda sinal estranho, esta "cimentagem" do território, já de si pequeno. Queremos qualidade na construção, ou apenas nos preocupamos com a altura dos prédios? Não será essa mesma preocupação um sinal de "pequenez mental"? E quanto ao aumento de valor dos terrenos "transformados" em "urbanizáveis"? Nem o urbanismo é politicamente neutro, como nota Helena Roseta. Há sempre capacidade para tornar qualquer actividade em algo lucrativo. Talvez as "torres" de 25 andares propostos para Alcântara fossem bem menos ofensivas que os milhares e milhares de casebres baixos onde se alojam, sem condições, imensos cidadãos.

(1), (2) Urbanismo e Corrupção, Helena Roseta, Visão, p.122, nº 720, 21 a 27 de Dezembro de 2006.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 164
Ano 16, Fevereiro 2007

Autoria:

Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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