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Raio de calor invisível e insuportável

No último sábado de Janeiro, dezenas de milhares de norte-americanos reuniram-se em Washington, numa manifestação contra a Guerra no Iraque, promovida por opositores da política de George W. Bush organizados em torno de um colectivo denominado "Unidos pela paz e pela justiça" ( http://unitedforpeace.org ), manifestação onde se ergueram cartazes a pedir a "destituição de Bush por crimes de guerra".
Jane Fonda, que há 34 anos foi uma das figuras mais mediáticas na luta contra a Guerra do Vietname, esteve presente na manifestação, acompanhada da filha e dos netos. "Sinto orgulho de estar nesta manifestação acompanhada da minha filha e dos meus netos, mas sinto muita tristeza por ser necessário voltar a estar em manifestações desta natureza. É sinal que não aprendemos nada com os erros do passado, que não aprendemos com a Guerra do Vietname", disse a actriz.
Menos de 24 horas depois, em Najaf, cidade a 160 quilómetros de Bagdade, tropas do Governo iraquiano apoiado pelas tropas americanas que ocupam o país travaram uma batalha cujas primeiras notícias davam conta da existência de milhares de resistentes contra a ocupação estrangeira e contabilizavam mais de 250 mortos, incluindo os dois pilotos norte-americanos de um helicóptero abatido pela resistência.
Curiosamente, muitos dos órgãos de comunicação social que reportaram os confrontos de Najaf utilizaram a palavra "batalha", termo correcto mas habitualmente pouco utilizado nas referências jornalísticas à guerra que se trava no Iraque, desde que o país foi invadido pelos Estados Unidos a pretexto da existência de armas de destruição massiva que o regime de Saddam afinal não possuía.
Algo poderá estar a mudar e não apenas do domínio das técnicas para dispersão de manifestações como a mais recente, inventada e tornada pública pelo exército dos Estados Unidos - um raio de calor invisível e insuportável que pode ser lançado contra multidões a uma distância 17 vezes superior à distância média a que têm de ser utilizados os métodos clássicos dos canhões de água ou das balas de borracha ou de sal.
Ainda no que toca a avanços tecnológicos, sublinhe-se que no dia 11 de Janeiro p.p., a República Popular da China destruiu, com um míssil, um satélite meteorológico desactivado que se mantinha em órbita a 850 quilómetros da Terra, tornando-se o terceiro país no Mundo, depois dos Estados Unidos e da Rússia (ao tempo União Soviética) a possuir meios para dominar este tipo de armas.
Talvez esta experiência chinesa, a primeira do género em 20 anos, não seja a pior notícia de Janeiro de 2007 se funcionar, eficazmente, como um aviso aos Estados Unidos para que não cedam à tentação de "dominar" o Mundo, como Bush anunciava no discurso do Estado da Nação que proferiu há um ano, em Fevereiro de 2006.


  
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Edição:

N.º 164
Ano 16, Fevereiro 2007

Autoria:

Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias
Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias

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