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A Educação Física frente a competição e a cooperação
Neste início do século XXI, a competitividade é um valor amplamente divulgado e considerado como essencial para o sucesso profissional e pessoal. Todavia, pode-se constatar que a exacerbação da competição entre os povos e as pessoas tem acentuado ainda mais a separação entre os que ganham e os que perdem, entre os que dominam e os que são dominados. Existe uma supervalorização da competição como meio para o alcance do controle, do sucesso, da posse e do poder.
Dados recentes demonstram que, lamentavelmente, os países aplicaram em gastos militares, no ano de 2004, 2,6% do PIB global, o que representa o valor de US$ 1,035 trilhão. É o maior valor aplicado depois do período da Guerra Fria. Os EUA são responsáveis por quase a metade destes gastos no setor militar. Tais dados revelam que a prioridade hoje no mundo gira em torno da competição, da insegurança, do conflito e da busca do poder para ver quem é superior e quem domina mais. Esta situação enfraquece e coloca em risco a espécie humana e a existência do nosso planeta.
O valor da competitividade é, ainda, reforçada pela lógica neoliberal que prioriza o mercado, o privado e secundariza a pessoa humana e a coisa pública. Não é preciso muito esforço e nem complexas pesquisas para constatar que aumentam as desigualdades entre os mais pobres e os mais ricos. Basta observar nas ruas e nos becos das nossas cidades pessoas sem qualquer perspectiva de vida e de existência.
Tal situação precisa ser pensada e transformada. A superação desta tendência requer que possibilitemos às nossas crianças e aos nossos jovens a incorporação e a vivência de outros valores, pautados na tolerância, na solidariedade, no respeito mútuo, no trabalho coletivo e na cooperação. É preciso romper com a idéia dominante de que a competitividade é o único valor a ser transmitido e o principal meio que garante às pessoas as melhores oportunidades e condições de sobrevivência no mundo. Cabe, portanto, às famílias, aos educadores e às escolas o papel de valorizar e desenvolver outras atitudes que o contexto social não destaca como prioritárias para a vida no mundo atual. É uma opção política bastante desafiadora e carregada de complexidade, considerando todos os entraves a serem superados.
A competição e a cooperação são possibilidades de agir e estar no mundo, por isso, a Educação Física, por meio dos seus conteúdos, pode contribuir plenamente para desenvolver ao invés de um ser humano ultra competitivo um outro mais cooperativo e mais solidário. Para tanto, uma pergunta se faz necessária: cooperar ou competir, qual a melhor jogada?
No que se refere à competição, muitos educadores da Educação Física a enxergam como um fim si mesma. Defendem que por meio da sua vivência os jovens aprenderão a respeitar as regras e desenvolverão atitudes necessárias para o seu sucesso na sociedade competitiva. Um exemplo disto são os chamados jogos e campeonatos escolares que envolvem alunos das redes públicas e particulares de ensino. No conjunto dos alunos das escolas, alguns privilegiados são selecionados e podem participar, reforçando o rótulo de escolhido ou excluído. A maioria reprime o seu desejo de participar, aceita torcer ou, então, faz de conta que nada está ocorrendo. Será que existe só esta alternativa de fazer jogos entre os alunos? Ou será que podemos criar uma nova proposta para a Educação Física escolar e sonhar mais alto, colaborando assim na criação de uma escola que revele outras possibilidades para brincar, jogar, viver e ser feliz e, ainda, na construção de um mundo que ao invés de investir em armamento, utilize as suas riquezas para a superação da fome, da miséria e da morte lenta.
As famílias e as escolas podem escolher o caminho a seguir, todavia, é bom lembrar que apostar na educação que ensina e estimula apenas a competitividade é deixar nossos filhos e alunos sem uma outra opção, submetidos a um único estilo de vida. Isso significa limitar as possibilidades de escolhas, apontar para um mundo uniforme e com perspectivas nada alentadoras.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 162
Ano 15, Dezembro 2006

Autoria:

José Milton de Lima
Prof. Dr. do Departamento de Educação da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente prudente - S.P. Brasil
Márcia Regina Canhoto de Lima
Departamento de Educação Física.Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente - S.P. Brasil
José Milton de Lima
Prof. Dr. do Departamento de Educação da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente prudente - S.P. Brasil
Márcia Regina Canhoto de Lima
Departamento de Educação Física.Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente - S.P. Brasil

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