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Isto é de dar em doido!
Este é um relato verídico, um facto da vida real vivido por um casal jovem, que habita numa qualquer aldeia de Portugal. O António (nome fictício) é um rapaz de 30 anos, com o 9º ano de escolaridade, casado há três anos com uma jovem Técnica Informática. Esta iniciou o marido nos caminhos enviesados do uso da Internet. Ele aprendeu a explorar e a tirar partido dos sites pornográficos. Rapidamente se tornou num consumidor compulsivo. Sucederam-se as conversas nos Chats e os encontros sexuais, marcados pela Internet. As ausências do lar andavam a par das desculpas esfarrapadas. O António andava na lua. Um dia acordou com umas manchas no corpo e uma sensação da mal - estar. Decidiu consultar o médico, o qual solicitou um conjunto de exames, entre os quais o do VIH/SIDA. O António, também ele, consciente das suas infidelidades e dos riscos que tinha corrido, acreditava estar infectado. Entrou em pânico! Começou aqui uma nova fase da sua vida. Seguiram-se exames e mais exames, misturados com mentiras. À esposa contara-lhe, que, no seu papel de bombeiro, tinha estado em contacto com o sangue de uma pessoa ferida, que mais tarde veio a saber que tinha SIDA. Não sei se ela acreditou, visto que o casamento estava à beira do abismo e o António à beira da loucura e do suicídio. A espera dos resultados tornara-se desesperante e as consultas psiquiátricas incapazes de lhe darem tranquilidade e paz. Pediu-me ajuda! Marcámos o número de aconselhamento SOS SIDA e ouvi, na primeira pessoa, a sua verdade.
Minha senhora precisava de ajuda! Não sei se tenho SIDA. Tive relações sexuais com mulheres da rua (?) Sim ? respondia ele - usei sempre o preservativo. Mas tive contactos com elas doutra maneira, metia-lhes as mãs. Não pode entrar pelos dedos? (?) mas eu já fiz os exames. Quando foi? Prá aí há um ano e tal. Fiz exames 3 meses depois de estar com as raparigas e o médico mandou-me fazê-los outra vez 6 meses depois. Disse-me que tinha o sangue limpo.
Mas (?) não acha que os médicos é que sabem? ? hummm, hummm- pois (?) mas eu não compreendo, uns, dizem-me que estou limpo, outros, que posso ainda ter o bicho no meu corpo durante 5,8 e até 10 anos e sem saber. Que os exames não dizem tudo - hummm, hummm- Quem me disse? Foi a senhora do laboratório e depois perguntei a uma enfermeira e disse-me o mesmo. (?)Eu fui ver á Internet, andei lá a ver e julgava que não tinha nada. Mas, pois, hummm, hummm (?) isso era o que eu pensava, acreditava que estava limpo. Pois (?), pois (?) mas, um dia destes cortei-me num vidro e fui parar ao hospital. Disse à médica que há um ano e tal julgava que tinha SIDA, que tinha feito exames e o meu sangue estava limpo.
A médica olhou para mim e disse-me quase a gritar: - quem te disse isso enganou-te! tu ainda podes ter o vírus durante muitos anos e podes infectar a tua mulher!
Tá ver, foi a médica que disse e ela deve saber! Não acha? E eu não queria infectar a minha mulher!
O António calou-se. Escutava atentamente o que lhe dizia a técnica da linha SOS SIDA
Percebia-se um brilho nos olhos - Não posso estar infectado? sim, pois usei preservativo. Vossemecê não é médica? Ah, Não? Tá bem! Pois aquela médica do hospital é que disse e eu acreditei, né? E eu que pensava que os médicos sabiam tudo e (?) pois, esta médica disse-me (?) eles também se enganam né? Tá bem, tá, sim, tá bem. Já percebi, sim já, já. Obrigado.
Acredite senhora, isto é de dar em doido!

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 162
Ano 15, Dezembro 2006

Autoria:

Orquídea Lopes
Universidad de Salamanca
Orquídea Lopes
Universidad de Salamanca

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