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Terminologias linguísticas e ensino de línguas

Algumas notas [I]

Nos últimos tempos, a Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS) tem vindo a ser objecto de um significativo número de textos na comunicação social que sobre ela têm maioritariamente exprimido posições de pendor fortemente crítico. Tais textos, de natureza variada - crónicas, cartas de leitores, cartoons, etc. -, têm representado a Terminologia como texto hermético, estranho a uma tradição escolarmente consolidada, facto que a tornaria de difícil reconhecimento por professores e alunos e, nessa medida, não só ineficaz em termos pedagógicos como susceptível, até, de gerar efeitos indesejáveis no que diz respeito às formas de relação dos alunos com as línguas.
Este tipo de opiniões intersecta, de forma certamente variável, convicções de professores, de alunos, de pais, de responsáveis pela coordenação pedagógica nas escolas, de associações profissionais, ainda que neste universo possam ser encontrados elementos de forte contradição.
O debate que parece desenhar-se em redor da Terminologia Linguística ganha, a meu ver, em ser aprofundado, sobretudo se ele puder ser situado no quadro dos problemas mais gerais do ensino e da aprendizagem das línguas, extravasando-se, assim, os limites estritos da questão terminológica. Tal debate, se conduzido com a serenidade e a espessura necessárias, poderá permitir que sejam equacionados aspectos relevantes da educação em línguas, assim se contribuindo para o aprofundamento da reflexão sobre uma área da educação reconhecidamente relevante em termos individuais e sociais. Se estas condições forem preenchidas, talvez o espaço público deixe de ser menos colonizado por discursos que tendem a diluir as questões centrais em detrimento de questões periféricas ou que se estribam em pontos de vista meramente ideológicos sem qualquer base de sustentação séria, seja empírica seja teórica.
É neste quadro que me proponho, através de uma série de polaroids, analisar alguns problemas suscitadas pela existência de uma terminologia linguística no campo pedagógico, dos modos da sua concepção às formas da sua apropriação, dos seus princípios organizadores às escolhas que ela pode corporizar.
Fá-lo-ei a partir de um ponto de vista que gostaria de explicitar neste texto inicial: uma terminologia linguística para uso escolar, quaisquer que sejam os contornos que apresente, do ponto de vista em que me coloco, é um entre vários instrumentos de trabalho. Um instrumento importante porque pode, por exemplo, contribuir para a instituição de uma linguagem comum ou para a delimitação de um universo de referência partilhável pelos profissionais. Mas, ainda e só, um entre muitos outros instrumentos.
Qualquer tentativa de reduzir as questões do ensino das línguas, designadamente do ensino do português, à questão da TLEBS ou qualquer tentativa de a fazer corresponder ao corpo de conhecimentos "legítimos" sobre as línguas relevaria, a meu ver, de uma profunda incompreensão seja, desde logo, das funções que uma terminologia deve assumir, seja do que significa ensinar e aprender línguas na Escola.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 162
Ano 15, Dezembro 2006

Autoria:

Rui Vieira de Castro
Universidade do Minho
Rui Vieira de Castro
Universidade do Minho

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