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Estudos de aula: Contributo para uma cultura participada de desenvolvimento profissional e da qualidade do ensino e das aprendizagens

Entre as estratégias para a promoção da eficácia das escolas e da qualidade das aprendizagens, os estudos de aula têm vindo a adquirir grande relevância em alguns países. No sistema educativo japonês é, desde há muito tempo, prática integrada na cultura de muitas escolas. Não se trata de uma alteração das práticas de ensino que existem, por exemplo,  nas nossas escolas, mas de um desenvolvimento dessas práticas no sentido de mais e melhor qualidade. A proposta, tem raízes e sustentação nas práticas de organização e gestão curricular já utilizadas pelos professores e, metodologicamente não está longe de processos de investigação-acção e dos círculos de estudo. Por isso, parece-me fazer todo o sentido enquanto pista a seguir nas nossas escolas.
Os estudos de aula são essencialmente metodologias de trabalho apoiadas em atitudes investigativas e dinâmicas colaborativas entre professores, que visam simultaneamente a promoção das aprendizagens dos alunos, o desenvolvimento profissional dos professores e produtos cumulativos de investigação - acção com impacto na qualidade da prática docente. Desenvolvem-se em torno de observações de aula(s) de um professor, por um grupo de colegas que recolhem dados sobre o processo de E-A e os analisam em conjunto.
As aulas-objecto de investigação, são observadas não como um fim em si mesmo, mas como uma ampla abertura sobre o processo de ensino e aprendizagem, partilhada por um grupo de professores em que um concorda ser observado, enquanto os outros observam e registam o processo de ensino e aprendizagem no desenvolvimento da aula ao vivo. Os dados registados são analisados pelo grupo (observado e observadores) num colóquio depois da aula, reflectindo o processo nas suas vertentes quer de ensino, quer de aprendizagem.
Para além de olhares sobre as práticas concretas de cada sequência, sua discussão e formulação de sugestões para práticas futuras, a análise procura também ter em conta o processo cumulativo e alargado, que resulta de observações e debates regulares ao longo de um ciclo de aulas estudo. Os registos vão integrando conclusões provisórias e cumulativas que poderão ter a sua expressão final e significado teórico, através da análise transversal do processo de um ou mais ciclos de estudo de aulas.
Metodologicamente, os estudos de aula partem dos princípios da organização e gestão curricular.  Lewis, Perry e Murata (Educational Researcher, April 2006) descrevem a metodologia do ciclo de estudo de aula, através de 4 etapas: 1º formulação dos objectivos de longo prazo para as aprendizagem e desenvolvimento dos alunos; 2º plano de aula - selecção ou revisão do plano da aula a investigar: objectivos, processos de ensino e aprendizagem previstos, plano de recolha de dados, rationale da abordagem escolhida; 3º desenvolvimento e observação: um professor conduz a aula estudo, os outros observam e recolhem dados; 4º reflexão - colóquio sobre a aula estudo - para partilha e análise dos dados da aula com vista a compreender a dinâmica real da aula em termos do ensino e das aprendizagens, relações com o plano de aula e questões transversais acerca do processo; para sistematizar o ciclo de modo a consolidar, apoiar  e desenvolver novas aprendizagens, novas questões para o ciclo seguinte do estudo de aulas.
A grande finalidade desta metodologia é a melhoria do ensino através (a) dos conhecimentos e competências dos professores ? em relação aos conteúdos, aos métodos, à capacidade de observação dos alunos, à articulação das práticas diárias com objectivos a longo prazo; (b) do envolvimento da comunidade dos professores: motivação para melhorar; ligação e entreajuda entre colegas; transparência no desempenho docente; (e) dos recursos de aprendizagem: planos de aula; meios colegiais de desenvolvimento profissional.
O estudo de aulas apoia-se, portanto, nas metodologias dominantes de gestão curriculares. A aula vivida e real é a peça central do processo. Devido a resistências de cultura profissional e pela falta de iniciativas nesse sentido, é rara (não só nas nossas escolas!) a simples prática de observação das aulas de um colega pelos seus pares. Há, no entanto, antecedentes de práticas nas escolas portuguesas que podem constituir plataformas para desenvolvimentos no sentido aqui proposto. Os projectos de investigação-acção e os círculos de estudos se adaptados a dinâmicas de continuidade, são uma das possibilidades. Outra, são os estágios de formação e profissionalização de professores. Embora longe das rotinas de desenvolvimento profissional, integradas na cultura das escolas, assumidas e desenvolvidas pelos professores, constituem também experiências com potencial para evoluírem no sentido de práticas de desenvolvimento profissional, geridas pela comunidade dos professores, no contexto de cada escola e de cada grupo ou departamento.


  
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Edição:

N.º 161
Ano 15, Novembro 2006

Autoria:

Carlos Cardoso
ESE de Lisboa
Carlos Cardoso
ESE de Lisboa

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