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Um rápido olhar para o ensino em França

Finalmente, consegui não comprar, aos sábados, os semanários. Não fiz parte do conclave de leitores que se obrigou a escolher o velho jornal e o mais jovem hebdomadário que surgiu nas bancas de todo o País.
Assim comprei, por ironia, a revista francesa L?Express Mag, da primeira semana de Setembro (1), que, como se depreende nesta altura da rentrée, proporciona vários artigos sobre a educação, ocupando as páginas 26 a 39. Permitam ? quase em cima do acontecimento ? que retire algumas dicas que podem cobrir, muito ligeiramente, o ensino em França. Reconheço que estas linhas tenderão para a vertente mais sindicalista que a pedagógica, ainda que nenhum sindicato nacional me tenha pedido algo.
Mal abri a revista deparei com umas páginas da jornalista Delphine Saubaber, referindo que até 2007, no seu artigo intitulado ?Profs : le gâchis français?, ocorrerá a supressão de 7000 lugares no ensino, e que os sindicatos apelam para uma greve unitária, neste mês, para impedir esta situação, se das reuniões do Ministério com todos os Sindicatos não saírem resultados que satisfaçam ambas as partes.
Na folha seguinte, em destaque lê-se, no meio de grande artigo ?Un professeur certifié gagne 1758 euros par mois au début de sa carrière et 3700 à la fin?. Compare-se com o que um docente ganha em Portugal, sabendo que a meio da carreira não chega sequer ao primeiro valor!  Mais adiante, para não ser maçador, traduzo livremente do francês ?Os professores também têm vantagens: prestígio na carreira; cumprem 18 horas lectivas por semana; progridem por antiguidade e são alvo de raríssimas inspecções?. Este número de horas lectivas mais a sua preparação das aulas, planificações, reuniões e realização de actas, preenchimento de impressos e projectos totalizam, semanalmente 39 horas e 47 minutos, isto segundo um estudo de 2002, realizado pelo próprio Ministério, abrangendo colégios e liceus.
O Ministério da Educação ? em França ? também pretende fazer reformas de fundo ? tal como no nosso país ? para minimizar o insucesso escolar e que melhor respondam à integração de estudantes de diversas origens culturais, linguísticas e civilizacionais. Para esta conjuntura, os professores franceses ? naturalmente também preocupados com a situação ? continuam a reclamar gabinetes e melhores meios materiais de trabalho, para melhor resolver o problema do insucesso e abandono que anualmente originam 160 000 jovens sem qualquer diploma. Por isso, em França, os professores que se disponham a trabalhar em projectos com turmas de alunos difíceis recebem pontos (para a progressão na carreira) e mensalmente um bónus de 90 euros (2). Em Portugal, nenhum passo foi dado nesse sentido! E, provavelmente, há pais ? e mais uns tantos portugueses ? que reconhecem valor ao professor que aguenta ? sob um tensão tremenda ?, por vezes, quase uma tarde com uma turma difícil, recheada de alunos desmotivadíssimos, que não querem estar numa sala nem querem estudar, que estão carregados de problemas resultantes dos ambientes familiares e da situação económica que os afecta, agravadas pelas circunstâncias adversas da sociedade que os envolve. Se nos lembrarmos das imagens de uma turma com alunos difíceis que uma televisão portuguesa mostrou durante um debate, a repercussão da impressa generalizou-se, unicamente, pela preocupação da Senhora Ministra, apenas, para com os alunos, por estes serem menores e não terem sido avisados de que estavam a ser filmados pelo seu comportamento impróprio numa sala! 

1)      Pode ser consultada no sítio WWW.lpexpress.fr. a revista é a nº 2878.
2)      No artigo «On envoie les debutants au feu des collèges dificiles » destacaram a estas linhas : 90 euros et des points en plus pour enseigner lá où persone ne veut aller »


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 160
Ano 15, Outubro 2006

Autoria:

José Manuel Teixeira
Professor na Escola EB 2/3 D. Afonso Henriques
José Manuel Teixeira
Professor na Escola EB 2/3 D. Afonso Henriques

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