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Miragens de paz

Os serviços secretos da França deixaram fugir uma informação secreta segundo a qual haverá fortes indícios de que Osana bin Laden possa ter morrido, no Paquistão, de febre tifóide. Como seria de esperar, o presidente da França veio a público manifestar preocupação pela fuga de informação e dizer, a propósito, que tal notícia, afinal, ainda não tinha sido confirmada. A imprevisibilidade da guerra e das suas consequências está para além da morte de um dos seus plausíveis protagonistas e pode atingir toda a agente e gente que se julgava a salvo, tal qual acontece com os efeitos dos caprichos de um furacão como o Gordon, que recentemente atravessou o Atlântico e chegou onde ninguém esperava, à Península Ibérica.
Percebeu-se isso, no Norte do país, quando a chuva e o vento de recente madrugada acordaram tudo e todos. Os furacões, como as guerras, fazem-se anunciar com grande estrondo e não olham a quem atingem: o Gordon (com mais um ésse virava gin) anunciara uma trajectória que ameaçava ser devastadora para todas as ilhas dos Açores, com excepção de Santa Maria e de S. Miguel, mas, à última hora, mudou de rumo e só atingiu as duas ilhas açorianas que prometia poupar.
A ilusão de que os furacões chegam sempre à Europa já sem forças para causar estragos, é como a ilusão de quem olha para a guerra como qualquer coisa que não pode atingir-nos. Como se paz fosse apenas um decretado estado de ausência de guerra, e esta algo de mais significativo do que um mero conflito de pequena intensidade -  a confirmar a profecia de Arafat segundo a qual o Ocidente poderá ganhar muitas guerras mas jamais ganhará a paz.
Seguramente não a ganhará a lançar achas para uma fogueira que tresanda a enxofre, como recentemente fez o Cardeal Ratzinger (Bento XVI), citando, numa lição de sapiência proferida na Alemanha, acusações radicais contra Maomé apesar dele próprio não as subscrever, como mais tarde viria a revelar, após o levantamento de muitos muçulmanos.
Sublinhe-se, enquanto é tempo.


  
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Edição:

N.º 160
Ano 15, Outubro 2006

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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