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Que significa estudar no Secundário? O ponto de vista dos alunos

Quase no seu termo, O Projecto JOVALES (Jovens, Alunos e Ensino Secundário) que tem vindo a ser aqui invocado amiúde nos últimos números de ?A Página?, merece agora umas tantas reflexões  a propósito de alguns dados que nos foram revelados pelos instrumentos  utilizados, neste caso um questionário que envolveu  cerca de 400 alunos das  escolas do centro e da periferia do Porto, frequentando o 11º ano  do ensino secundário e compreendendo tanto os CSPOVA, como os CSPOPE, como também  o Ensino Profissional. Dos múltiplos itens incluídos no referido instrumento figurava um grupo de questões que visavam identificar o significado que os jovens alunos atribuem ao estudo. As respostas eram dadas sob a forma de valorização crescente ou de discordância para concordância numa escala de um a cinco pontos que se dispunham da esquerda para a direita.
Os itens que obtiveram maior concordância, expressa  nas posições 4 e 5 (em conjunto) foram em primeiro lugar ?Estudo para garantir um futuro melhor? ? um total de 94 por cento de concordâncias ? e em   segundo lugar  ?estudo para tirar boas notas? (90,3%).. Em terceiro lugar, mas a uma distância razoável, encontra-se o item ?Estudo para ser uma pessoa competente? com 81,4 por cento de concordâncias.
Se nos empenharmos por descobrir algumas diferenças entre os alunos do universo CSPOVA E CSPOPE versus alunos do Ensino Profissional, encontrá-las-emos logo no primeiro item a favor destes últimos. Na verdade, os alunos do Ensino Profissional atribuem um índice de concordância a 100 por cento quanto à questão ?Estudo para garantir um futuro melhor?.
Em contrapartida, relativamente  à questão ?Estudo para tirar boas notas? o Ensino Profissional distancia-se substancialmente do Ensino Secundário: 72,7 por cento contra 90,3 por cento, como vimos.
Se ao invés, considerarmos as questões menos valorizadas quanto ao significado do estudo, temos em primeiro lugar o item ?Para obter vantagens junto dos meus pais? com 57 por cento de respondentes a recusar que isso constitua razão para se dedicar ao estudo. Em segundo lugar, aparece o item ?Para ter a consideração dos professores? com um valor de 50 por cento de respostas e em terceiro lugar o item ?porque gosto do que estudo? com a percentagem de discordâncias claras de 40 por cento. Tenha-se em atenção que estes valores de discordância foram obtidos pelo somatório das posições 1 e 2 da escala, à semelhança do que foi feito para os valores da concordância.  Podemos, todavia, adiantar que, dum modo geral, isto é, para todos os três itens em causa, a posição 1 ? a mais negativa ? é sempre aquela que reúne a maior percentagem de apoiantes.
Do total dos 18 itens que constituíam a bateria relativa à questão do significado de estudo, estes foram os que se assinalaram pelas posições extremas que alcançaram. Embora as questões que integravam o campo da discordância sejam menos categóricas pelo peso que lhes foi atribuído que as questões do campo da concordância, nem por isso elas deixam de causar algumas perplexidade, se atendermos ao carácter emblemático que representam para o mundo da escola. Por outro lado, no próprio campo da concordância passam-se ?coisas? que acabam por desempenhar um papel altamente ?conivente? com o que se passa no campo ?oposto?. Mesmo que hoje não tenhamos tempo para mais, fica a chamada de atenção para a preocupação quase exclusiva dos alunos para com o futuro, logo reforçada pela centração nas ?boas notas?, como condição imaginária da sua garantia. Parecendo ser uma posição altamente ?sensata? e muito conforme com o ideário da escola e o ?espírito do tempo?, quem responsavelmente pode apenas ?olhar? para aqueles 40 por cento que declaram não gostar do que estudam contra apenas 29 por cento (posições 4 e 5) que declaram gostar e  30 por cento que estão entre o sim e o não  (posição  3) ? O que suporta o futuro num mundo assim?
E resta saber como tudo isto se articula com a desvalorização da posição do professor, de quem os alunos dissociam cada vez mais o sentido do saber...


  
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Edição:

N.º 158
Ano 15, Julho 2006

Autoria:

Manuel Matos
FPCE, Univ. do Porto
Manuel Matos
FPCE, Univ. do Porto

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