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A densidade do Tempo

O Tempo, isso que os relógios medem, segundo Einstein, isso que nos mata com o seu passar, não é uma constante. Ao contrário de ?C?, 299 000 Km/s, a velocidade da Luz, essa sim, uma constante, o Tempo não o é. O Tempo é um mistério mas todos o percepcionamos.
Embora Einstein tenha dito que passado, presente e futuro são ilusões persistentes mas não passam de ilusões, essas ?ilusões? impõem-se. O Tempo, desde o Século XX acelerou imenso e ao mesmo tempo (?) tornou-se mais espesso, mais denso.
Durante milénios parecia existir uma ?imobilidade eterna? ? outra referência ao Tempo, esta de Aristóteles, falando de Deus. Desde a Revolução Industrial tudo acelerou. Com as duas Guerras Mundiais, a explosão científico-tecnológica, o advento e vulgarização da televisão, o Tempo encolheu e multiplicou-se. O mesmo assassinato, repetido televisivamente, torna-se em vários assassinatos, renovando-se, resistindo, multiplicando-se.
Este Tempo multifoliado e denso constrói realidades depressa. Quando alguém pensa que a identidade Grega é recente, porque a Grécia só recuperou a independência face à Turquia no Século XIX, está enganado. Duzentos anos são muitos anos, num Tempo hiper-denso que é o nosso. Assim sucede também com a destruição de memórias, pessoas, locais, ou identidades.
Fechar uma maternidade em Elvas no ano 2006 significa algo tremendamente duradouro, quando se observar esse facto dentro de cinco anos. Parecerá que nunca houve maternidade em Elvas! Portugal é independente desde 1143, mas, no Tempo hiper-denso isso é irrelevante face à perspectiva de uma crescente integração económica e social na Espanha, que, contudo, se encontra em curso há pouquíssimos anos.
Este Tempo de ilusões permanentes, vive de imagens, é uma hiper-imagem. Estas imagens sobrepõem-se numa confusão integradora e geradora de falta de sentido. Era positivo que quem governa (?) este Planeta à margem da Via Láctea plantado, tivesse a noção da gravidade do que manda fazer. Mas ?alguém? governa ?algo?? O poder económico manda em tudo, mas não ?é alguém?. Trata-se de um imenso conjunto de decisões contraditórias, tomadas todos os dias, em todo o Planeta, por grandes empresas concorrentes entre si!
?Quero ter o direito de deixar que as vacas me lambam as mãos quando as ajudo nos partos, às vezes, aos sábados e aos domingos.? (1)

(1) Francisco Carvalho Guerra, Presidente do Centro regional do Porto da Universidade Católica, entrevista a ?pontos nos ii?, Maio de 2006.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 157
Ano 15, Junho 2006

Autoria:

Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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