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Histórias de um Relatório Fotográfico

No início de Agosto de 2005, o GRUPALFA, grupo de pesquisa do qual faço parte como bolsista, realizava o seu Congresso Internacional Cotidiano: Diálogos Sobre Diálogos. Junto com a professora Carmen Sanches, minha missão era fotografar todas as mesas de diálogos, conferências, apresentações de trabalhos e atividades culturais, gerando registros que nos permitissem a elaboração de um relatório fotográfico das atividades, o que foi feito na forma de CD-ROM contendo uma apresentação de slides com cerca de 10 minutos.
À medida que eu fazia as fotos, ia percebendo que elas tratavam de algo muito maior do que um registro histórico dos acontecimentos. Além da dimensão objetiva de registrar a presença dos conferencistas e o número de participantes de cada mesa, está registrado ali, em cada fotografia do relatório, um aspecto diferenciado, que nos traz não só a comprovação do fato, como também algum tipo de experimentação, algum tipo de vivência sobre o evento retratado, mesmo para aqueles que não estiveram presentes em nenhum dos quatro dias do encontro.
Essa vivência, que tem muito da minha própria vivência do congresso - já que sou autora das fotos e, como todos que fazem uma fotografia, procurei em cada uma delas buscar o que para mim havia de mais relevante para ser registrado - é sim uma vivência subjetiva. Ela é duplamente subjetiva, pois envolve duas leituras: a minha e a de quem olha a fotografia tirada.
Nesse sentido, fica clara a dimensão subjetiva do ato de fotografar, mas é preciso destacar que esse entendimento de subjetividade não é o mesmo entendimento daqueles que salientam a dimensão individual na construção de significados, diminuindo à quase inexistência os contextos históricos onde esses significados são produzidos. Deixar esses contextos no segundo plano dos discursos significa opor subjetividade e objetividade, separando as interpretações que o sujeito faz dos fatos - ou de leituras dos fatos, como são as fotografias - das suas próprias experiências de vida.
A subjetividade da qual se fala aqui é a que ressalta o sujeito como um agente pensante inseparável das suas experiências de vida, que nunca são só suas, já que todos vivemos em sociedade. Quem vê as fotos do congresso, mesmo que não o tenha vivenciado presencialmente, é capaz de tirar conclusões que vão além da certificação de que os palestrantes estavam presentes e que as mesas de fato aconteceram. Para além do fato documental, as fotografias permitem inferir, por exemplo, se uma determinada mesa estava ou não interessante observando as expressões e posturas de seu público. Essa não é uma informação objetivamente dada, como é a presença de um palestrante. Ela depende de uma leitura subjetiva, o que de forma alguma significa que ela esteja dissociada do contexto das nossas próprias vivências, pois não só a leitura da fotografia já em si uma vivência, como para realizar tal leitura nos baseamos em situações que já experimentamos anteriormente. Qual professor não é capaz de comparar o público da fotografia com a postura de sua classe diante de um assunto interessante para dizer se aquela mesa estava ou não interessante? Qual a pessoa que não utilizaria a sua própria vivência como aluno para inferir tal conclusão?
A subjetividade que não se opõe à realidade objetiva reforça para o sujeito a sua existência como sujeito ativo, que se apropria da sua história, utilizando-a criativamente na produção de saberes úteis para melhorar o seu entendimento sobre os fatos. Assim, longe de promover discursos descontextualizados, ela resgata a existência de contextos históricos objetivos, em que sujeitos conscientes da sua realidade empregam seus saberes para registrar, ler e intervir no mundo em que vivem.

Referências Bibliográficas:

  • MATTERLART, Armand e Michèle, História das Teorias da Comunicação, Edições Loyola, São Paulo, 199
  • NANDA, M., Contra a destruição da ciência: histórias cautelares do terceiro mundo, in: Em Defesa da História, Jorge Zahar Ed., Rio de Janeiro, 1999
  • BORGES, P. H. P. História e Fotografia. Revista HISTEDBR On-line Número 12 - Dez/2003, Internet - UNICAMP - Campinas, v. 12, 2003.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 157
Ano 15, Junho 2006

Autoria:

Izabel Machado da Costa
GUPALFA, Grupo de pesquisa em alfabetização das classes populares, Universidade Federal Fliminense
Izabel Machado da Costa
GUPALFA, Grupo de pesquisa em alfabetização das classes populares, Universidade Federal Fliminense

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