São imensas as funções que são hoje exigidas ao professor: educador, instrutor, animador, mediador entre a escola, a família e a comunidade, construir o sucesso educativo para todos, a qualidade de vida para todos; combater a discriminação, construir a inclusão, etc. À escola são pedidas hoje soluções que são mais sociais do que propriamente pedagógicas. Claro que estas funções têm diferentes pesos consoante o nível de ensino em que se inscrevem. Mas não é essa a matéria em apreço agora.
Diz o povo que ?quem muito burro toca pouco acerta?. E é bem verdade que, mesmo que haja vontade de tudo isto abraçar, a questão é que é humanamente impossível fazer tudo isto com qualidade. Por outro lado, mesmo que o docente se entregue voluntariamente para além do tempo exigido por lei, a verdade é que se trata de funções algo específicas, que exigem formação também específica, e que, em consequência, podem não ser viáveis de desempenhar por um único professor, por muito global e plurifacetado que ele seja. Além destas funções, o professor é ainda funcionário público, ou privado, com funções administrativas várias. Em casa tem que preparar aulas, planificar actividades a médio, longo e curto prazo, ver testes, trabalhos práticos, fazer a respectiva avaliação, etc. Para além desta faceta há ainda essa função de trabalho social para a qual nem todos os professores estão preparados cientificamente ou mesmo sensibilizados. Se se tratar dum director de turma, então essa responsabilidade é ainda mais notória. Dir-se-á que este tem tempo atribuído para essas funções mas não é líquido que as possa realizar com êxito. A questão não é apenas de ter tempo ou não, de ter ou não créditos atribuídos para o desempenho de tais tarefas. Do ponto de vista teórico, quando a interacção escola família é pouco consistente e precisa ser aprofundada, pode-se argumentar até que ?se não vai Maomé à montanha vai a montanha a Maomé?. Mas, parece ser verdade que há algumas dificuldades em colocar o professor a interagir e a trabalhar fora da sala de aula. A sala de aula é por natureza e historicidade o espaço sagrado do professor. E ir a montanha a Maomé implicaria que os docentes estivessem preparados, sensibilizados, e que se disponibilizassem para sair do reino da sala de aula, da escola em geral, e se atrevessem a buscar o entendimento dos alunos e seu contexto em ambiente não escolar; quer dizer, na vida social. Ontem mesmo, numa escola da Região Centro, um director de turma saiu do território escolar, foi à farmácia local e comprou um teste de gravidez para aplicar a uma aluna. E todos estarão disponíveis para isto e para o desempenho de outros papéis congéneres? Mas, e onde acaba o trabalho do professor e do director de turma? Tem que ser ?pau para toda a colher?? Ou precisaremos de Assistentes Sociais nas escolas? Ou, antes, de formação de professores/educadores para estas funções, tanto mais que os lugares para a função tradicional do docente estão praticamente esgotados? Surgiria assim um novo quadro de escola aberto a cientistas sociais, que não só psicólogos, mas também a profissionais de serviço social, educadores sociais, a antropólogos, sociólogos, ou a educadores/professores reconfigurados, com formação apropriada, que soubessem mediar a comunicação entre a linguagem e culturas das crianças, famílias, comunidades que a ela acedem.
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